20 Mar 2020 Reportagem Fresh water

Microplásticos e efluentes: em busca de soluções

Ano a ano, temos demandado e produzido mais plástico, grande parte do qual acaba, eventualmente, em rios, lagos e no oceano. Amostras de água e sedimentos em todo mundo indica a onipresença de microplásticos, aqueles menores do que 5 milímetros, nos corpos de água doce, ecossistemas marinhos e nos solos. Se, por um lado, muitos produtos plásticos são essenciais, por outro, precisamos considerar os impactos causados por eles, como a poluição por microplásticos e o aquecimento global.

As fontes de microplásticos são diversas. Conforme um produto plástico é exposto às intempéries, ele se degrada em partículas cada vez menores, gerando os microplásticos. Mas eles também são liberados no meio ambiente diretamente, na forma de micropartículas, como é o caso de diversos cosméticos e produtos de higiene que levam esse plástico em sua composição. Além disso, a abrasão de objetos plásticos maiores, como os pneus em contato com o asfalto, ou de tecidos sintéticos durante a lavagem, são fontes importantes dos microplásticos.

Apresentados em uma variedade de tamanhos, cores, composições químicas, e formatos como fibras, fragmentos, pellets, flocos, folhas e espumas, os microplásticos entram nos corpos d’água por diversos caminhos, como a deposição atmosférica, vazamento de terras contaminadas e pelo sistema de saneamento básico.

Dentre as diversas apresentações desse tipo de plástico, as microfibras são consideradas a forma mais abundante tanto em efluentes quanto em corpos d’água, e são motivo de grande preocupação. Elas já foram encontradas no trato intestinal de zooplâncton, organismos nos leitos dos rios e mexilhões. Um de seus impactos é o possível bloqueio do sistema digestivo e causar inanição.

“A poluição da água por microplásticos é complexa e multidimensional, e endereçar efetivamente esse problema demanda uma gama de respostas”, diz Birguy Lamizana, especialista em efluentes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e coautora de um estudo sobre microplásticos em efluentes que será lançado na Semana da Água de Escotocolmo 2020 em agosto ou na Assembleia Geral das Nações Unidas para o Meio Ambiente, prevista para fevereiro de 2021.

O estudo em andamento, provisoriamente intitulado Avaliando tecnologias disponíveis e desenvolvendo um cardápio de opções tecnológicas para a remoção de plástico, microplástico e microfibras de efluentes e esgoto, é uma colaboração entre o PNUMA e o Instituto Internacional para Gestão das Águas (International Water Management Institute).

Wastewater
The Tunasan river in the Philippines is one of 21 main tributaries to the country’s largest lake, Laguna da Bay. A 2018 study titled Microplastic characterization in Tunasan River in Metro Manila found that 33 per cent of all solid waste in the river was plastic and that of the microplastics analysed 1 per cent was pellets, 3 per cent was filaments, 5 per cent was film and 91 per cent was fragments; 81 per cent of the microplastics found were polyethylene. Photo by Ramon F. Velasquez

 

Diferentes abordagens para endereçar a poluição por microplástico

Alguns países já baniram plásticos de uso único e microplásticos dos produtos de cuidados pessoais e cosméticos com o intuito de endereçar o problema, e campanhas que estimulam mudanças comportamentais do consumidor podem reduzir o uso desse tipo de produto. Existem também alguns tipos de design têxtil que podem reduzir a geração de microfibras durante a lavagem, mas esses produtos podem ser caros.

“Acreditamos que cerca de 35% dos microplásticos nos oceanos foram originados pela lavagem de tecidos sintéticos”, comenta Javier Mateo-Sagasta, coordenador de qualidade da água do Instituto Internacional para Gestão das Águas e coautor do estudo. “Uma solução possível é desenvolver sistemas domiciliares que previnam que os microplásticos sejam jogados no sistema de esgoto ou no meio ambiente. Existem tecnologias, por exemplo, que permitem a remoção de 97% das microfibras.”

“Precisamos de legislação efetiva para a gestão dos microplásticos para além do controle de micropartículas nos cosméticos. Até agora, microfibras estão for a do radar das políticas públicas. Precisamos explorar a taxação para produtos e tecidos que geram microfibras para ajudar no financiamento dos custos crescentes do tratamento dos efluentes.”

“Precisamos gerenciar melhor os vazamentos advindos do solo, já que esse tipo de fonte é responsável por 80% dos microplásticos que entram nos corpos d’água”, diz Javier Maeto-Sagasta.

Proteger corpos d’água e a paisagem de microplásticos é uma questão importante. Por isso,“precisamos desenhar e adotar soluções que limitem a exportação de microplásticos das cidades para o meio ambiente, protegendo corpos d’água de receber essa carga de poluição, regenerar ecossistemas aquáticos afetados e minimizar a exposição a populações em risco”, comenta Josiane Nikiema, líder do grupo de pesquisa sobre economia circular e poluição das águas do Instituto Internacional para Gestão das Águas e coautora do estudo.

“O tratamento de efluentes e a gestão segura do lodo proveniente do esgoto são marcos chave no caminho para atingir esses objetivos. A adoção e implantação dessas soluções devem ser suportadas por legislação adequada, tecnologias comprovadas, instrumentos econômicos, educação e conscientização para gerar mudanças reais no mundo”, complementa.

Na Europa e na América do Norte, centenas de milhares de toneladas de microplásticos são jogadas no solo anualmente por meio do lodo proveniente do tratamento de esgoto sanitário. “A incineração desse logo para evitar a contaminação do solo por microplásticos é uma possibilidade, mas é caro e previne o retorno de matéria orgânica e nutrientes para o solo, essencial para sua saúde”, diz Nikiema.

Para mais informações, contate Birguy Lamizana: Birguy.Lamizanan@un.org