Sociobio Amazonia
16 Oct 2020 Tukio Kutumia mazingira kushughulikia tabianchi

Histórias, saberes e sustentabilidade da Amazônia foram tema de conversa afetiva entre pesquisadoras e ator

Que caminhos podemos traçar para garantir o desenvolvimento sustentável da Amazônia? Como criar alternativas de crescimento socioambiental e econômico que mantenham a floresta em pé? Esta é a região mais biodiversa do planeta. Uma biblioteca viva, que carrega um potencial incalculável, mas que por décadas vem sendo explorada de maneira descontrolada. Na segunda edição de Caminhos para Sociedades Sustentáveis, em 29/9, o Museu do Amanhã e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) promoveram um encontro entre Noemia Kazue Ishikawa, micologa e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e Alcilene Cardoso, advogada e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Em conversa marcada por muitas histórias, quem acompanhou pôde se apropriar do tema de forma leve e afetiva. O ator Luis Lobianco, que mediou o diálogo, perguntou às duas convidadas como as pessoas de fora da Amazônia podem contribuir para o debate sobre a sua sustentabilidade.

“Convidei o Davi Kopenawa para dar uma palestra aqui no INPA e ele, mesmo com a agenda apertada, aceitou e me contou uma história muito interessante. Segundo ele, naquela semana tinha tentado convencer cerca de 80 jovens a desistir do garimpo. Então, disse, que se uma mão ele estende pedindo para os jovens não irem ao garimpo, na outra ele tem que oferecer uma alternativa”, relatou Noêmia. “Eu vejo também uma terceira mão: a do consumidor. Sem o consumo de ouro e de produtos de terras ilegais, não teríamos tantos problemas na Amazônia”, complementou. Em outra fala, ainda defendeu que “o despertar da população é importante. Precisamos abrir mão de hábitos, costumes, que fazem mal".

Para Alcilene, “nunca foi tão necessário pensar o amanhã que queremos e estamos dispostos a construir”. A pesquisadora acredita que além de um território de florestas e de águas, a Amazônia é um legado de compartilhamento de saberes, uma biblioteca viva de biodiversidade. “Olhada do ponto de vista da economia, ela é fonte de segurança alimentar. Eu diria que as pessoas precisam se conectar procurando saber as histórias da Amazônia, conhecer a gente daqui e ter cuidado na hora de comprar um alimento. Compre a história do produto, não só o produto”, alertou.

Noêmia e Alcilene falaram das oportunidades que o turismo e a economia sustentável trazem para os povos ribeirinhos, indígenas e comunidades tradicionais da região. Lobianco também brincou com o termo micologia, que não se trata de nada relacionado aos micos, mas sim do importante estudo dos fungos, ao que Noêmia explicou que a humanidade conhece apenas cerca de 5% da biodiversidade local e contou que promove o micoturismo.

“Fazemos uma pesquisa sobre os cogumelos da Amazônia e levamos grupos para observar pássaros e flores e também conhecer a diversidade de fungos. Nos passeios noturnos, todo mundo se encanta com as folhas luminescentes”.

 folhas luminescentes - Noemia Kazue Ishikawa, micologa e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)

Alcilene lembrou dos desafios da agricultura familiar e da bio e socioeconomia impactadas pela pandemia do coronavírus. Mas ressaltou que houve também oportunidades com a criação de redes de comércio solidário. “O desafio das cadeias produtivas, e não só as que têm mercado, como açaí e castanha, mas agora também o pirarucu, o mel, é o indicador ambiental. Podemos ter e conviver com grãos e pecuária. A sociobiodiversidade traz isso pra gente. Mas precisamos respeitar os limites. A atividade garimpeira pode gerar mais ou menos impacto – depende do gestor público, do produtor e do consumidor. Não se pode consumir carne que veio de área de desmatamento. O consumo consciente pode ser essa barreira”, defendeu.

Noemia ainda destacou a importância do trabalho de artesãs, da agricultura familiar e da existência de uma ciência cidadã que envolve o território e os saberes: “Se o campo não planta, a cidade não janta”, concluiu.

O encontro encerrou o mês em que é celebrado o Dia da Amazônia. O bate-papo,  que teve tradução em libras e um canal no Telegram disponível para que a comunidade de surdos pudesse enviar perguntas, está disponível no canal do Youtube do PNUMA e do Museu do Amanhã (@PNUMABRASIL / @museudoamanha). O próximo bate-papo virtual será em novembro e irá abordar os oceanos. Para saber mais, acompanhe as redes sociais do PNUMA (@pnuma_pt) e do Museu do Amanhã (@museudoamanha).