Foto: reprodução (Revolusolar)
25 Nov 2020 Reportagem Climate Action

Jovem brasileiro é finalista de prêmio global da ONU com modelo de energia sustentável para favelas

Um quarto da população do Rio vive em favelas, com marginalização social, infraestrutura inadequada e energia inacessível – com os preços dobrando na última década. Observando a problemática de serviços de energia caros, não confiáveis e de baixa qualidade nas favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, o jovem Economista Eduardo Ávila desenvolveu o projeto ‘Revolusolar’.

Utilizando energia solar fotovoltaica, o Revolusolar estabeleceu parceria com as duas comunidades para co-criar um novo modelo de energia acessível, sustentável e alinhado às tradições de ação coletiva e autogestão desses territórios. A solução inclui instalações solares, treinamento profissional para residentes e oficinas para crianças sobre sustentabilidade.

 Além disso, o projeto está implementando a primeira cooperativa solar em uma favela. O financiamento é feito por patrocinadores institucionais e um componente de aluguel: os beneficiários de energia solar pagam uma taxa mensal, parte da economia com a conta de luz.

Euardo Ávila é um das finalistas do prêmio Jovens Campeões da Terra e conversou com o PNUMA sobre a Revolusolar e sobre modelos de energia sustentável baseados em comunidade.

Foto: Eduardo Ávila

O que o inspirou a trabalhar com energia sustentável?

Sou economista formado pela UFRJ e estudo a transição energética, energias renováveis, e, principalmente, mecanismos financeiros de modelos de negócios e o que faz com que esses mecanismos sejam difundidos.

Ao mesmo tempo em que estudava, via aqui ao lado o território das favelas Chapéu Mangueira e Babilônia, que sofrem com problemas de infraestrutura de energia, uma situação de desigualdade muito forte. O problema de acesso à energia elétrica e toda essa questão problemática de energia é uma barreira para o desenvolvimento.

Como foi criado o Revolusolar? Por que adotar uma abordagem voltada para as favelas?

O Revolusolar foi criado em 2015, a partir da junção do movimento de dois grupos: lideranças comunitárias das duas favelas que percebiam a problemática histórica do acesso à energia; e empreendedores do setor acadêmico e do setor privado, que estão percebendo a evolução da energia solar fotovoltaica, que é cada vez mais viável financeiramente no Brasil.

Existe uma visão de que na favela só tem “gato” de energia e ligações clandestinas, mas é um mito. A maioria dos moradores paga energia e paga mais caro por ela. Proporcionalmente em relação ao orçamento, paga mais caro e ainda sofre com problemas de acessibilidade, quando há falhas no serviço e aciona o atendimento.

Quais são as oportunidades e os desafios de trabalhar com modelos de energia sustentável na favela?

A primeira oportunidade na favela é em relação à redução de despesas com energia. Temos um cenário no Brasil em que a energia é a quinta mais cara do Mundo. O Rio de Janeiro tem uma das energias mais caras do Brasil. O custo da energia teve um aumento de 105% na última década, mas custos de energia solar caíram 75%. Ou seja, você tem uma energia que é cada vez mais cara e outra que é cada vez mais barata, gerando a oportunidade de reduzir a despesa dessa população.

Uma segunda oportunidade é a geração de empregos. A energia solar fotovoltaica é a que mais gera emprego. A geração distribuída faz com que empregos sejam gerados na própria comunidade, empregos locais e de qualidade. A terceira, é a promoção de conscientização das pessoas e das comunidades. Além do impacto que as hidros e termoelétricas causam, fazendo do setor de energias o principal gerador de mudanças climáticas, elas ficam longe das pessoas e das comunidades. Não conseguimos nos sentir protagonistas desse setor.

O modelo de geração distribuída permite que as pessoas sejam envolvidas, faz com que as pessoas se conscientizem mais sobre sustentabilidade e energia renovável. Você se sente mais culpado gastando energia quando você produz sua própria energia. A gente dá mais valor para energia e a eficiência energética.

Em relação aos desafios, o principal é o financiamento. Estamos tentando modelos filantrópicos, mas são modelos que no Brasil exigem investimentos altos.

Como você imagina o futuro e os desafios do projeto?

Muita gente pergunta sobre replicação do projeto, nossa resposta em relação ao futuro é que desenhamos esse modelo de energia solar para ser replicado, não só no Rio, mas no Brasil, e até estamos sonhando com a América Latina. Mas, neste momento, estamos cem por cento focados na próxima fase do projeto que é a criação da cooperativa no Rio.

Desde 2015, estamos atuando pelo desenvolvimento sustentável na favela. Temos três frentes: a frente de instalações de energia solar; a frente de capacitação de moradores eletricista, são eles que fazem a instalação; e a frente de capacitação infantil de energia solar e sustentabilidade. Adotamos a metodologia de ciclo solar, os serviços de manutenção são feitos pelos eletricistas capacitados para manutenção e eles também são monitores da capacitação infantil.

Fazemos instalações individuais de energia solar, para autoconsumo local, mas percebemos que para replicar existiam muitas barreiras técnicas e econômicas. A maioria das casas demanda reforço de estrutura, que é caro. Além disso, tem a questão do sombreamento de árvores, do morro, construções ao lado. É difícil para uma família reunir sozinha condições econômicas que fazem a instalação individual viável.

Por essas limitações, estamos adotando o modelo de cooperativa, juntando pessoas ou comércios. Vamos utilizar um telhado da associação de moradores para energia solar, beneficiando cerca de 30 famílias cooperadas nessas duas comunidades. Com esse projeto piloto, queremos validar indicadores, avaliar a sustentabilidade de indicadores, e fazer ajustes nos modelos no curto prazo.

Que conselho você daria para jovens que também querem enfrentar desafios ambientais?

Que se inspirem em técnicas, conhecimentos e soluções que o mundo vem desenvolvendo nos últimos anos, mas que também estejam conectados às necessidades e tradições locais dos seus territórios. Que comecem pequeno, deem o primeiro passo, em comunidades no seu entorno. Validem as hipóteses centrais com projetos piloto e depois repliquem.