O COVID-19 é uma doença zoonótica, o que significa que ele é transmitido entre animais e seres humanos e, portanto, está intimamente ligado às regiões onde ambos habitam. A atividade humana e econômica está desgastando os espaços selvagens, as florestas e outros ecossistemas importantes, aproximando-nos cada vez mais de hospedeiros e reservatórios de patógenos – animais e plantas que podem abrigar doenças. Nessa entrevista, o Diretor Adjunto do Escritório Regional da África do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Frank Turyatunga, compartilha ideias sobre como proteger as paisagens dos continentes.
O que é degradação do solo e por que devemos nos preocupar com essa questão?
Paisagem degradada é aquela que perdeu ou está perdendo a biodiversidade – a base de toda a vida no planeta. Tal processo diminui a capacidade da terra de fornecer serviços ecossistêmicos, como água, sombra, prevenir a erosão e reter a umidade do solo. Atualmente, a maior parte das terras degradadas estão fora das áreas protegidas e costumam afetar florestas, pastagens, pradarias, regiões montanhosas e áreas úmidas. Ecossistemas saudáveis são essenciais para manter a saúde do planeta e das pessoas. É por isso que precisamos investir no gerenciamento sustentável de todos os tipos de ecossistemas.
O Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, em 17 de junho, foca na relação entre terra e consumo. Como o consumo afeta a saúde das paisagens? Quais são os principais fatores da degradação da terra na África Subsaariana?
O COVID-19 ressalta a relação entre a saúde humana e a natureza e revela um problema fundamental: os seres humanos têm necessidades ilimitadas, enquanto o planeta tem capacidade limitada para satisfazê-las. Frequentemente, a degradação da terra é causada por necessidades e consumo humano insustentáveis.
Um dos principais fatores da degradação da terra, que continua recebendo pouca atenção, é a expansão agrícola para alimentar uma população humana que cresce cada vez mais rápido. A expansão agrícola envolve o desmatamento das árvores. O planejamento inadequado do uso da terra, o acesso precário a insumos e tecnologias agrícolas e, em alguns casos, a corrupção, também impulsionam o cenário de desmatamento e queimadas. Sob esse sistema de cultivo, a biomassa lenhosa, a forragem e outros recursos são superexplorados, o que causa a degradação das paisagens.
Outro fator preocupante é o uso de carvão. Quem não têm condições de cozinhar com gás ou eletricidade recorre ao uso da lenha ou do carvão para obter energia. A produção de carvão também requer o corte de árvores, o que também leva à degradação.
Além disso, a mudança climática agrava esse problema, com inundações, secas e até infestações de gafanhotos que destroem colheitas. Os agricultores nunca sabem por quanto tempo perdurará a estação de crescimento. Isso gera pobreza rural, o que, por sua vez, incentiva mais estratégias de sobrevivência, como desmatamento e queimadas.
A África é uma das regiões com crescimento e urbanização mais acelerados do mundo. Como a urbanização afeta a degradação do solo?
A expansão das cidades africanas também é um fator importante para a perda de ecossistemas e a degradação das paisagens. Os agricultores rurais tentam acompanhar a crescente demanda por bens de consumo nas cidades, o que acaba prejudicando suas próprias terras. Por exemplo, pastores que viraram criadores comerciais com rebanhos cada vez maiores podem provocar o sobrepastoreio das pastagens semiáridas africanas. Essas áreas só vão suportar tantos animais até que os serviços ecossistêmicos, como pastos, sombra e poços de água, sejam reduzidos ou degradados.
Como podemos parar a degradação da terra e promover sua restauração?
As soluções baseadas na natureza trabalham com, e não contra, a natureza. Um bom exemplo seria uma boa gestão do pastoreio, deixando certas áreas em repouso para se recuperarem da exploração intensiva. Para isso, é necessário educação e investimento no planejamento do uso da terra. Os governos precisam estar cientes das necessidades e preocupações dos agricultores locais.
Se governos e parceiros priorizarem e abordarem o acesso à tecnologia digital, essas ferramentas poderão ajudar a educar e treinar os criadores de rebanhos no gerenciamento sustentável das terras. Os planos de gerenciamento de paisagens precisam da adesão de todas as partes interessadas para que sejam eficazes.
Além disso, governos e autoridades locais precisam considerar com urgência o investimento em serviços ecossistêmicos e a restauração de terras, especialmente para ajudar o grande número de jovens desempregados em muitos países africanos. A melhor maneira de aproveitar a força laboral desses jovens é transformar soluções baseadas na restauração e na natureza em empresas onde eles possam trabalhar. Tais organizações não serão como empreendimentos tradicionais, portanto também será necessário investir em desenvolvimento de capacidade, acesso a financiamentos e desenvolvimento e implementação de políticas públicas que favoreçam as soluções baseadas na natureza para os jovens e as mulheres.
O PNUMA apoia a Década de Ação sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que sinaliza a renovação do compromisso da comunidade internacional para acelerar as ações em prol dos objetivos globais, inclusive do Objetivo 12, Consumo e Produção Responsáveis, que também pode ser respaldado pela implementação da Agenda de Ação Pan-Africana sobre a Restauração de Ecossistemas para Aumentar Resiliência.
O Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, realizado todo dia 17 de junho pelas Nações Unidas, se concentra em promover mudanças de atitudes nas pessoas em relação aos principais fatores da desertificação e da degradação da terra: a produção e o consumo insustentáveis. Para termos terras produtivas que atendam às demandas de 10 bilhões de pessoas até 2050, nossos estilos de vida precisam mudar. O Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, sob o lema “Comida. Alimentação. Fibra.", procura educar as pessoas sobre como reduzir seu impacto pessoal.
A Década de Restauração de Ecossistemas da ONU 2021–2030, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e por outros parceiros, como a iniciativa Africa Restoration 100, o Fórum Global de Paisagens e a União Internacional para a Conservação da Natureza, abrange os ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos. Como um apelo global à ação, a Década reunirá apoio político, pesquisa científica e força financeira para incentivar massivamente os esforços pela restauração. Ajude-nos a moldá-la.
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Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, PNUMA, roberta.zandonai@un.org