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18 Feb 2021 Notícia Nature Action

As crises de clima, biodiversidade e poluição devem ser enfrentadas em conjunto - novo relatório do PNUMA

  • Alcançar as metas climáticas e de biodiversidade, reduzir a poluição e atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável requer a mobilização de toda a sociedade.
  • Mudar as visões de mundo e colocar a natureza no centro das tomadas de decisão é a chave para alcançar uma mudança transformadora.
  • Os planos de recuperação da COVID-19 são uma oportunidade imperdível para investir na natureza e alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Nairobi, 18 de fevereiro de 2021 – O mundo pode transformar sua relação com a natureza e enfrentar simultaneamente as crises do clima, da biodiversidade e da poluição para garantir um futuro sustentável e prevenir futuras pandemias, afirma um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que propõe um plano abrangente para enfrentar a tríplice emergência global.

O relatório “Fazer as Pazes com a Natureza expõe a gravidade dessas três crises ambientais com base em avaliações globais, incluindo as do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), bem como o relatório Panorama Ambiental Global (Global Environment Outlook) do PNUMA, o Painel Internacional de Recursos do PNUMA e novas descobertas sobre o surgimento de doenças zoonóticas, como a COVID-19.

Os autores avaliam as ligações entre os múltiplos desafios ambientais e de desenvolvimento e explicam como o progresso científico e o desenvolvimento de políticas ousadas podem abrir caminho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030 e um mundo neutro em carbono até 2050, revertendo ao mesmo tempo a tendência de perda de biodiversidade e reduzindo a poluição e o desperdício. Seguir esse caminho significa inovar e investir somente em atividades que protejam tanto as pessoas quanto a natureza. A restauração dos ecossistemas e a melhoria da saúde humana, assim como um clima estável, estão entre as chaves do sucesso.

"Ao reunir as últimas evidências científicas mostrando os impactos e ameaças da emergência climática, da crise da biodiversidade e da poluição que mata milhões de pessoas a cada ano, [este relatório] mostra claramente que a nossa guerra contra a natureza destruiu o planeta", disse o Secretário-geral da ONU, António Guterres, no prefácio do relatório. "Mas também nos guia para um caminho mais seguro, propondo um plano de paz e um programa de reconstrução do pós-guerra".

"Ao transformarmos a forma como vemos a natureza, podemos reconhecer seu verdadeiro valor. Ao refletir este valor em políticas, planos e sistemas econômicos, podemos canalizar investimentos em atividades que restauram a natureza e são recompensadas por ela. Ao reconhecer a natureza como uma aliada indispensável, podemos deixar a engenhosidade humana à serviço da sustentabilidade e assegurar nossa própria saúde e bem-estar ao lado do planeta", complementou Guterres.

Em meio a uma onda de investimentos para revitalizar as economias atingidas pela pandemia da COVID-19, o projeto comunica a oportunidade e a urgência de uma ação ambiciosa e imediata. Ele também estabelece os papéis que todos, desde governos e empresas até comunidades e indivíduos, podem e devem desempenhar. Este ano de 2021, com as próximas reuniões da Convenção de Clima (UNFCCC COP 26) e de Biodiversidade (CBD COP 15), é particularmente crucial. Nestas reuniões, os governos precisarão estabelecer metas sinérgicas e ambiciosas para salvaguardar o planeta, reduzindo quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa nesta década, e conservando e restaurando a biodiversidade.

Enfrentar as três ameaças globais simultaneamente

O crescimento econômico trouxe benefícios desiguais em termos de prosperidade para uma população mundial em rápido crescimento, deixando 1,3 bilhões de pessoas pobres. Enquanto isso, a extração de recursos naturais triplicou, e os níveis prejudiciais criaram uma emergência planetária. Apesar de uma queda temporária nas emissões devido à pandemia, a Terra está caminhando para um aquecimento global de pelo menos 3°C neste século. Mais de 1 milhão das 8 milhões de espécies vegetais e animais estimadas estão em alto risco de extinção, e as doenças causadas pela poluição matam cerca de 9 milhões de pessoas prematuramente a cada ano. A degradação ambiental está impedindo avanços rumo à redução das desigualdades, à promoção do crescimento econômico sustentável, ao trabalho para todas e todos, a sociedades inclusivas e pacíficas e ao fim da pobreza e da fome.

O relatório mostra como essas três emergências ambientais estão interligadas e têm causas comuns - portanto, é necessário enfrentar as crises em conjunto para solucioná-las de forma eficaz. Os subsídios aos combustíveis fósseis, por exemplo, e os preços que deixam de lado os custos ambientais, estão impulsionando o desperdício de produção e consumo de energia e de recursos naturais - que estão na raiz desses três problemas.

Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA, explicou que o relatório destacou a importância de mudar mentalidades e valores, e encontrar soluções políticas e técnicas que estejam à altura das crises ambientais da Terra.

"Ao demonstrar como a saúde das pessoas e a natureza estão interligadas, a crise da COVID-19 destacou a necessidade de uma mudança radical na forma como vemos e valorizamos a natureza". Se integrarmos isto na tomada de decisões, seja de política econômica ou de escolhas pessoais, podemos trazer uma mudança rápida e duradoura rumo à sustentabilidade, tanto para as pessoas quanto para o meio ambiente. Os planos de ‘recuperação verde’ para economias afetadas pela pandemia são uma oportunidade única para acelerar a transformação", afirmou.

Lançado na véspera da quinta Assembléia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o relatório apresenta fortes argumentos para exlicar o porque e de que forma medidas urgentes devem ser tomadas para proteger e restaurar o planeta e seu clima de uma forma holística.

O relatório expõe os resultados que uma mudança transformadora traria, e como a prosperidade, os empregos e uma maior igualdade seriam beneficiados. Mudanças de longo alcance exigem que repensemos como valorizamos a natureza, como investimos nela, como integramos esse valor nas políticas e decisões em todos os níveis, como revisamos subsídios e outros elementos dos sistemas econômicos e financeiros, e como incentivamos a inovação em tecnologias e modelos de negócios sustentáveis. O investimento privado maciço em mobilidade elétrica e combustíveis alternativos mostra como indústrias inteiras reconhecem os ganhos potenciais de uma rápida mudança.

Os autores também ressaltam que frear o declínio ambiental em todas as suas formas é essencial para o avanço de muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em particular para a redução da pobreza, segurança alimentar e da água e para a saúde de todos e todas. Um exemplo é como a intensificação sustentável da agricultura e da pesca, associada a mudanças nos hábitos alimentares e à redução do desperdício de alimentos, pode contribuir para acabar com a fome e com a pobreza em todo mundo e ainda melhorar a nutrição e a saúde, ao mesmo tempo em que poupa áreas terrestres e marítima para a própria natureza.

Com o objetivo de reforçar o apelo à ação, o relatório enfatiza a necessidade de que as partes interessadas em todos os níveis da sociedade estejam envolvidas na tomada de decisões. Também identifica dezenas de ações-chave que governos, empresas, comunidades e indivíduos podem e devem empreender a fim de criar um mundo sustentável.

Por exemplo:

  • Os governos podem incluir o capital natural em medidas de desempenho econômico, colocar um preço no carbono e transferir trilhões de dólares em subsídios de combustíveis fósseis, agricultura não sustentável e transporte para soluções de baixo carbono e amigáveis à natureza.
  • As organizações internacionais podem promover abordagens de saúde únida (One Health) e metas internacionais ambiciosas para a biodiversidade, tais como a ampliação e melhoria das redes de áreas protegidas. 
  • As instituições financeiras podem deixar de conceder empréstimos para combustíveis fósseis e desenvolver financiamentos inovadores para a conservação da biodiversidade e a agricultura sustentável.
  • As empresas podem adotar os princípios da economia circular para minimizar o uso de recursos e o desperdício e comprometer-se a manter cadeias de fornecimento transparentes e livres de desmatamento.
  • Organizações não-governamentais podem construir redes de interessados para garantir sua plena participação nas decisões sobre o uso sustentável dos recursos terrestres e marinhos
  • As organizações científicas podem ser pioneiras em tecnologias e políticas para reduzir as emissões de carbono, aumentar a eficiência dos recursos e levantar a resiliência das cidades, indústrias, comunidades e ecossistemas.
  • Os indivíduos podem reconsiderar sua relação com a natureza, aprender sobre sustentabilidade e mudar seus hábitos para reduzir seu uso de recursos, reduzir o desperdício de alimentos, água e energia, e adotar dietas mais saudáveis.

Um futuro sustentável também significa aprender com a crise da COVID-19 para reduzir a ameaça de doenças pandêmicas. O relatório salienta como a degradação de ecossistemas aumenta o risco de patógenos passarem dos animais para os humanos, bem como a importância de uma abordagem de saúde única (One Health) que considere a saúde humana, animal e planetária juntas.

 

NOTAS PARA EDIÇÃO

Leia o relatório e o sumário executivo aqui (em inglês)

Assista o vídeo sobre o relatório aqui

Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

O PNUMA é a principal voz global em temas ambientais. Ele promove liderança e encoraja parcerias para cuidar do meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e pessoas a melhorarem a sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações. Saiba mais em www.unep.org/pt-br.

Sobre a Assembléia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA)

A UNEA é o órgão decisório de mais alto nível do mundo sobre meio ambiente. A Assembléia se reúne bienalmente para estabelecer prioridades para políticas ambientais globais e desenvolver a legislação ambiental internacional. Por meio de resoluções e chamados à ação, a UNEA proporciona liderança e catalisa a ação intergovernamental em questões ambientais.

Para mais informações, favor entrar em contato

Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação no PNUMA Brasil, roberta.zandonai@un.org