Nice, França, 11 de junho de 2025 – O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) nomearam as primeiras Iniciativas de Referência da Restauração Mundial deste ano, combatendo a poluição, a exploração insustentável e espécies invasoras em três continentes. Estas iniciativas estão restaurando quase cinco milhões de hectares de ecossistemas marinhos – uma área do tamanho da Costa Rica, que, junto com a França, está sediando a 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos.
As três novas Iniciativas de Referência incluem projetos de restauração na região do Canal do Norte de Moçambique, rica em corais, mais de 60 ilhas do México e o Mar Menor, na Espanha, primeiro ecossistema da Europa com personalidade jurídica. As iniciativas vencedoras foram anunciadas em um evento durante a Conferência da ONU sobre os Oceanos em Nice, França, e agora são elegíveis para receber apoio da ONU.
“Depois de décadas sem dar o devido valor ao oceano, estamos testemunhando uma grande mudança em direção à restauração. Mas o desafio que temos pela frente é significativo e precisamos que todos cumpram seu papel,” disse Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. “Estas Iniciativas de Referência da Restauração Mundial mostram como a proteção da biodiversidade, a ação climática e o desenvolvimento econômico estão profundamente interligados. Para alcançar nossas metas de restauração, nossa ambição deve ser tão grande quanto o oceano que precisamos proteger”.
O diretor-geral da FAO, QU Dongyu, afirmou: "A crise climática, as práticas de exploração insustentáveis e o encolhimento dos recursos naturais estão afetando nossos ecossistemas azuis, prejudicando a vida marinha e ameaçando os meios de subsistência das comunidades dependentes. Essas novas Iniciativas de Referência da Restauração Mundial mostram que interromper e reverter a degradação não apenas é possível, mas também beneficia o planeta e as pessoas.
Os prêmios das Iniciativas de Referência da Restauração Mundial fazem parte da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas – liderada pelo PNUMA e pela FAO – que visam prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e em todos os oceanos. Os prêmios acompanham iniciativas notáveis que apoiam compromissos globais para restaurar um bilhão de hectares – uma área maior que a China – até 2030.
O Canal do Norte de Moçambique
Esta pequena região abriga 35% dos recifes de corais de todo o Oceano Índico e é considerada seu berçário e área de reprodução. O despejo de resíduos da agricultura, a pesca excessiva e as mudanças climáticas ameaçam esse trecho de oceano, importante tanto do ponto de vista econômico quanto ecológico.
Comores, Madagascar, Moçambique e Tanzânia já estão trabalhando juntos para gerenciar, proteger e restaurar quase 87.200 hectares de paisagens terrestres e marinhas interconectadas, beneficiando a natureza e as pessoas.
As ações realizadas hoje para mantê-lo incluem a restauração de florestas azuis e verdes, criando corredores de restauração interconectados, manguezais e ecossistemas de recifes de coral e melhorando a gestão da pesca. Esses esforços, defendidos pela ONG Fundo Mundial Para a Natureza (World Wide Fund for Nature ou WWF) e agências da ONU, abrangem múltiplos níveis e locais, envolvendo tanto áreas terrestres quanto marinhas.
Com financiamento adequado, é esperado que 4,85 milhões de hectares sejam restaurados até 2030. A expectativa é de que isso melhore o bem-estar das comunidades e promova o desenvolvimento socioeconômico, incluindo um aumento de 30% na renda familiar nas áreas-alvo, além da criação de mais de 2 mil empregos e 12 empreendimentos comunitários, integrando práticas indígenas.
Os manguezais de Madagascar já armazenam mais de 300 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e), comparável ao uso anual de eletricidade em mais de 62 milhões de residências nos Estados Unidos. Espera-se que a restauração aumente a capacidade desses países de absorver dióxido de carbono (CO₂) e ajude a combater as mudanças climáticas.
Ilhas de aves marinhas do México
Reconhecidas mundialmente como áreas vitais para a biodiversidade, especialmente por abrigarem um terço das espécies de aves marinhas do mundo, as ilhas mexicanas têm sofrido muito com os impactos negativos das espécies invasoras.
Então, há 26 anos, a Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas do México (National Commission for Natural Protected Areas ou CONANP) e a organização da sociedade civil Grupo de Ecologia e Conservação de Ilhas (Grupo de Ecología y Conservación de Islas ou GECI) lançaram um programa ambicioso e abrangente de restauração ecológica, em colaboração com parceiros de agências governamentais, sociedade civil, academia e comunidades locais.
Os esforços incluem a remoção de 60 populações de espécies invasoras e a restauração de colônias de aves marinhas, bem como a restauração da paisagem florestal. Juntamente com a implementação de protocolos de biossegurança, o programa abrangente restaura a riqueza endêmica da ilha e apoia comunidades locais da ilha.
Graças aos esforços de restauração, 85% das colônias de aves marinhas anteriormente extirpadas retornaram às ilhas, incluindo espécies em risco de extinção. A iniciativa completará a restauração de mais de 100 mil hectares até o final da década – o equivalente a quase um milhão de hectares de terras continentais em termos de valor de biodiversidade – abrangendo quase 100 ilhas e protegendo mais de 300 espécies endêmicas de mamíferos, aves e répteis.
Uma relação duradoura com as comunidades locais garante sua participação na iniciativa e os benefícios que ela traz: maior resiliência aos eventos climáticos extremos, pesca sustentável e ecoturismo.
Espanha: A lagoa do Mar Menor
Com suas águas transparentes e famosas, a lagoa do Mar Menor é essencial para a identidade da região, o turismo local, a pesca artesanal e a flora e fauna únicas, incluindo aves aquáticas. Cercada por uma das principais regiões agrícolas da Europa, é a maior lagoa de água salgada do continente, e sua biodiversidade se adaptou com sucesso a condições de temperaturas extremas, alta salinidade e baixos níveis de nutrientes.
No entanto, o despejo de nitratos proveniente da atividade agrícola intensiva, além de outras atividades poluentes terrestres e marinhas, levou à rápida degradação da lagoa, incluindo o surgimento de proliferações de algas prejudiciais.
Uma virada positiva ocorreu quando mais de meio milhão de cidadãos se mobilizaram em resposta a episódios de "sopa verde" e matança de peixes e apoiaram uma Iniciativa Legislativa Popular para tornar o Mar Menor uma pessoa jurídica com direitos. Também foram promovidas ações do sistema de justiça para exigir a aplicação de regulamentos de responsabilidade ambiental e possível responsabilidade criminal na poluição.
O Governo espanhol lançou uma intervenção ambiciosa através do Marco de Ações Prioritárias para Recuperar o Mar Menor (Framework of Priority Actions to Recover the Mar Menor ou MAPMM), com o objetivo de restaurar a dinâmica natural e resolver o problema na raiz, articulada em 10 linhas de ação e 28 medidas, com a criação de zonas úmidas, apoio à agricultura sustentável, construção de um amplo cinturão verde em torno dela, limpeza de minas abandonadas e poluídas, melhorar a gestão do risco de inundação, aumentar sua biodiversidade e sustentar a participação social.
A área total destinada à restauração é de 8.770 hectares, representando 7% de toda a bacia que flui para o Mar Menor. Essa área apoiaria os objetivos de mudança climática da Espanha, incluindo sua meta nacional geral de restaurar 870 mil hectares até 2030. Para uma das intervenções propostas, o Cinturão Verde, estima-se que absorverá mais de 82.256 toneladas de CO₂ até 2040 – o equivalente às emissões anuais de gases de efeito estufa de quase 14 mil pessoas na Espanha.
As Iniciativas de Referência da Restauração Mundial são escolhidas como os melhores exemplos de restauração de ecossistemas em andamento, em larga escala e de longo prazo por um grupo de especialistas no campo da restauração de ecossistemas da rede da Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas. A seleção segue um processo de revisão minucioso com 15 critérios, incorporando os 10 Princípios para a Restauração de Ecossistemas da Década da ONU.
Em 2022, as dez primeiras Iniciativas de Referência da Restauração Mundial foram reconhecidas como parte da Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas, seguidos pelo reconhecimento de sete iniciativas em 2024.
NOTAS AOS EDITORES
Outros recursos:
Link para todos os materiais de comunicação das três Iniciativas de Referência da Restauração Mundial
Link para B-roll e imagens
Sobre a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas
A Assembleia Geral da ONU declarou 2021-2030 como a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), junto com o apoio de parceiros, ela foi projetada para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas ao redor do mundo. O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, abrangendo ecossistemas terrestres e aquáticos. Um apelo global à ação, a Década da ONU reúne apoio político, pesquisa científica e força financeira para ampliar fortemente a restauração.
Sobre as Iniciativas de Referência da Restauração Mundial da ONU
Os países já prometeram restaurar 1 bilhão de hectares – uma área maior que a China – como parte de seus compromissos com o Acordo de Paris, as metas do Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, as metas de Neutralidade da Degradação da Terra e o Desafio de Bonn (Bonn Challenge). No entanto, pouco se sabe sobre o progresso ou a qualidade dessa restauração. Com as Iniciativas de Referência da Restauração Mundial, a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas está homenageando os melhores exemplos de restauração de ecossistemas em larga escala e de longo prazo em qualquer país ou região, incorporando os 10 Princípios de Restauração da Década da ONU. O progresso de todas as Iniciativas da Restauração Mundial será monitorado de forma transparente por meio da Estrutura para Monitoramento da Restauração de Ecossistemas, a plataforma da Década da ONU para acompanhar os esforços globais de restauração.
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
O PNUMA é a principal voz global sobre o meio ambiente. Ele oferece liderança e incentiva a parceria no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a melhorar sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
Sobre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
A FAO é uma agência especializada das Nações Unidas que lidera os esforços internacionais para acabar com a fome. O objetivo é alcançar segurança alimentar para todos e garantir que as pessoas tenham acesso regular a alimentos de alta qualidade suficientes para levar uma vida ativa e saudável. Com mais de 194 membros, a FAO trabalha em mais de 130 países em todo o mundo.
Para mais informações, entre em contato com:
Unidade de Notícias e Mídia, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Sala de Imprensa, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)