18 Feb 2020 Speech Climate Action

Declaração de Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA, na 149ª reunião do Comitê de Representantes Permanentes

Embaixador Coimbra, 

Excelências, colegas, senhoras e senhores 

Tivemos um começo extraordinário e catastrófico para 2020, com incêndios devastadores na Austrália, o mês de janeiro mais quente já registrado, inundações no Chifre da África e invasões de gafanhotos na África Oriental. Enquanto lutamos para responder ao ritmo implacável desses eventos extremos, fica claro que agora, neste momento, simplesmente não temos escolha a não ser agir para recuar a instabilidade no planeta e reverter a perda da natureza. 

Isso deve acontecer em 2020. No Super Ano da Natureza, temos muitas oportunidades para oferecer soluções para as mudanças climáticas, para a perda da biodiversidade e para a poluição. Este é o ano em que precisamos combinar ambição com ação, ação com impulso e vontade política com ciência. Este é o ano em que devemos finalmente garantir que apoiemos a natureza como imperativa para muitos dos desafios que a humanidade enfrenta. 

 

CoP 25 e ambição climática 

Não é surpresa que muitas pessoas tenham ficado decepcionadas com os principais resultados da CoP 25. Precisávamos dar um passo ambicioso para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Isso não aconteceu. A CoP também não entregou a finalização do Livro de Regras de Paris  (Paris Rule Book, em inglês) referente ao Artigo 6, o que significa que não temos um mecanismo de mercado em uso. Esta foi uma oportunidade perdida  que precisamos compensar em Glasgow, quando os países apresentam Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) mais altas. 

Contudo, desapontamento não é o mesmo que desânimo – e houve razões para nos sentirmos otimista. 

  • Nosso Relatório sobre a Lacuna de Emissões (Emission Gap Report, em inglês) foi “O” material científico citado por aí e isso representa o PNUMA no seu melhor – ciência sólida e legítima, respaldada por intensa comunicação e divulgação. O apetite pela ciência, que nos fornece um caminho a seguir, está mais forte do que nunca. 
  • Muitos países, incluindo estados membros da União Europeia, se comprometeram com a redução nas emissões de carbono até 2050. 
  • 73 países anunciaram planos de enviar Contribuições Nacionalmente Determinadas mais ambiciosas na próxima CoP, em Glasgow. 
  • Vimos regiões, cidades, empresas e investidores trabalhando a favor da redução de emissões de CO2 até 2050. A Aliança Net Zero para Proprietários de Ativos Líquidos, por exemplo, agora possui fundos de pensão prometendo descarbonizar seus investimentos até 2050. Juntos, esses fundos possuem ativos totais sob administração de US $ 3,9 trilhões de dólares. 
  • E, é claro, os jovens subiram ao palco para nos lembrar de nossas responsabilidades. 

Isso mostra que o mundo está pronto para uma ação climática séria. Ainda podemos apagar o incêndio, literal e metaforicamente, se cada um de nós der o seu melhor. 

 

Elevando o imperativo da natureza 

Muito do nosso sucesso dependerá do reconhecimento de que a natureza é a base de nossa economia, prosperidade e do planeta.  A natureza nos alimenta, nos veste, regula a temperatura, garante ingredientes para uma boa saúde e fornece a água que bebemos. Esta é a solicitação do Super Ano 2020 – gerar uma onda de ações  pela natureza e pelo futuro sustentável para todos, pois 14 das 17 metas de desenvolvimento sustentável são de fato sublinhadas pelo sistema produtivo da natureza. 

Esta mensagem está se espalhando. Vimos isso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, onde as preocupações ambientais dominaram o Relatório de Riscos Globais anual, com cinco dos principais riscos identificados como ambientais e, pela primeira vez, os CEOs relataram que a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema são  assuntos que os mantém despertos à noite. E assim deveriam. O relatório Natureza em Risco Crescente do Fórum Econômico Mundial mostra que cerca de US$ 44 trilhões de dólares, mais da metade do PIB mundial, depende da natureza e de seus serviços. 

As empresas estão começando a entender o impacto que isso terá em suas margens de lucro. Agora precisamos que elas ajam com base nesse conhecimento para que: 

  • Compreendam, avaliem e divulguem seu impacto e dependência da natureza
  • Transformem investimentos e operações para que não gerem perdas, mas sim ganhos positivos na biodiversidade
  • Detenham o desmatamento e busquem zerar a conversão de habitat animal em área de produção 
  • E colaborem na infraestrutura e no ambiente construído;  na energia e nos extrativos; na comida; na terra e  nos oceanos  

Vimos também o lançamento de iniciativas interessantes, como a campanha Um Trilhão de Árvores, uma plataforma para os principais governos, empresas, sociedade civil e eco –empreendedores comprometidos em restaurar e reflorestar o planeta. 

 

Quadro de biodiversidade 

A mobilização da comunidade empresarial para apoiar a agenda da biodiversidade é um passo importante para impulsionar a adoção de um quadro de biodiversidade global ambicioso, inclusivo e significativo em Kunming, em outubro de 2020. 

Para tornar essa estrutura um sucesso, precisamos da adesão das empresas e de outros setores. Também precisamos de metas e indicadores claros, mais ambição e foco na qualidade e quantidade de áreas protegidas. A Versão Zero do quadro de biodiversidade pós-2020, divulgado recentemente pela Secretaria da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), é um bom primeiro passo para fornecer esses elementos. 

Aguardo com expectativa a segunda reunião aberta do grupo de trabalho que se reunirá na próxima semana em Roma, na Itália, na sede da Organização de Agricultura e Alimentação. Deixo minhas condolências e solidariedade ao Governo da República Popular da China, que lutam contra a emergência de saúde pública resultante do surto do vírus COVID-19. 

 

As muitas oportunidades do Super Ano 

O quadro de biodiversidade não é a única oportunidade nesse Super Ano. Temos: 

  • A abertura de 2020 com a 13ª Conferência das Partes da Convenção sobre Espécies Migratórias atualmente em andamento na Índia
  • A implementação a sério do Acordo de Paris; as maiores Contribuições Nacionalmente Determinadas permitirão que as nações priorizem soluções naturais para a mitigação e adaptação climática. 
  • A Conferência dos Oceanos em Lisboa. 
  • O Congresso Mundial de Conservação da IUCN em Marselha
  • O Dia Mundial do Meio Ambiente, que focará na questão da biodiversidade 
  • O Fórum Político de Alto Nível, focado em realizar a Década de Ação e a entrega para o desenvolvimento sustentável. 
  • A Cúpula da Natureza da ONU em Nova York
  • A CoP 15, em Kunming
  • A CoP 26, em Glasgow
  • A comunidade internacional acordará com uma nova estrutura para o gerenciamento correto de produtos químicos e resíduos

Os resultados desses momentos importantes serão reunidos na 5ª Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 2021, que também será a plataforma de lançamento da Década de Restauração de Ecossistemas da ONU. 

 

PNUMA mais forte 

O PNUMA estará trabalhando intensamente ao longo desse  importante ano para desempenhar o seu papel e já existem vários processos em andamento, o mais importante deles é chegar a um  acordo sobre uma nova Estratégia de Médio Prazo (MTS - em inglês) e um novo  plano de trabalho para o período de 2022-2025. 

Como parte do processo de transformação que iniciei há algum tempo, ouvimos mais de 400 funcionários que participaram das sessões de descoberta. Essas pessoas foram unânimes em seu desejo de construir um PNUMA mais focado, alinhado, eficaz e impactante. Com base nos comentários recebidos da equipe do PNUMA, pretendo convocar um retiro com os Estados Membros em março para debater em conjunto o recorte da próxima estratégia, para que possamos começar a trabalhar coletivamente. 

À medida que avançamos nessa jornada, continuo a tomar medidas para fortalecer o PNUMA. Realinhei e consolidei as principais funções da Divisão de Políticas e Programas para que a equipe dê atenção total a suas principais atribuições a níveis estratégico, político e programático e à reforma da ONU. 

Paralelamente, em resposta às solicitações dos Estados Membros para intensificar nosso trabalho quanto a desastres e conflitos, estamos lançando uma revisão externa de nosso trabalho em estados frágeis, que irá alimentar a próxima Estratégia de Médio Prazo. 

Da mesma forma, estou tomando medidas para fortalecer a implementação dos esforços de mobilização de recursos do PNUMA, inclusive trabalhando com os Estados membros e explorando a captação de recursos com fontes de financiamento menos tradicionais. 

Estou confiante de que essas medidas adotadas como parte de nosso processo de transformação nos permitirão examinar atentamente o que está funcionando bem, onde podemos aproveitar nossa incrível equipe e talentos e como podemos usar o poder da ciência para mudar a agulha da sustentabilidade. 

No que diz respeito às nomeações seniores, permita-me apresentar e dar as boas-vindas a Monika Stankiewicz como Secretária Executiva da Convenção de Minamata, que hoje está aqui conosco. 

Meus parabéns também a Amy Fraenkel, que foi nomeada Secretária Executiva da Convenção sobre Espécies Migratórias. Atualmente, Amy lidera a 13ª CMS COP em andamento na Índia. 

E, por meio de uma atualização final sobre as nomeações seniores, anunciamos a vaga de Secretário Executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica. 

 

Avançando juntos na reforma da ONU: PNUMA e PNUD 

Como parte do processo de reforma, incluindo esforços mais amplos para fortalecer a ação ambiental dentro da ONU, estamos acelerando nossas iniciativas para trabalhar mais próximos a outras agências da ONU. No final de janeiro, tive o prazer de dar as boas-vindas a Haoliang Xu, diretor do Departamento de Apoio a Políticas e Programas do PNUD, e a sua equipe, para explorar três pontos em comum para mais colaboração – clima, natureza e economia verde. Estou ansiosa para ver o resultado dessa colaboração ainda esse ano. Nos próximos meses, também buscaremos uma colaboração mais profunda com outras agências da ONU, incluindo a FAO, principalmente ao intensificarmos nossos esforços conjuntos na Década sobre Restauração de Ecossistemas da ONU. 

 

PNUMA aos 50 

A Convenção de Estocolmo em 1972 foi um limiar importante para os muitos sucessos do processo multilateral de governança ambiental que se seguiu e a comemoração de 50 anos do PNUMA será um momento importante para celebrarmos e nos comprometermos com a ação ambiental. Por isso, terei o prazer de informar à Comissão sobre os preparativos em andamento para celebrar o 50º aniversário de estabelecimento do Programa ao longo do dia. 

Essa comemoração ocorrerá em 2022. Até lá, espero que tenhamos algo novo para comemorar. Espero que a comunidade internacional, com base no trabalho árduo que faremos este ano, tenha estabelecido as metas e os objetivos certos pela natureza. Espero que tenhamos começado a implementá-los. Espero ver progressos reais na redução da emissão de gases de efeito estufa, na proteção e na restauração de ecossistemas e de biodiversidade, na  redução da poluição e na ajuda às comunidades vulneráveis. Em resumo, espero que  estejamos viajando pelo longo caminho de reversão da  instabilidade  do planeta, criada pela humanidade. 

Esse é o Super Ano para a Natureza, mas também será o Super Ano para a humanidade se dedicarmos todos os nossos esforços em sugar cada gota de oportunidade que ela nos apresenta. 

Obrigado por se comprometerem, estou ansiosa para realizarmos juntos esse trabalho. 

 

Inger Andersen 

Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente