Credit: Pexels/ Ben Iwara
21 May 2025 Reportagem Chemicals & pollution action

Como dados estão ajudando cidades a combater a poluição plástica

Credit: Pexels/ Ben Iwara

Autoridades em Lagos, na Nigéria, estavam enfrentando um dilema.    

Era o início de 2020 e a cidade de 22 milhões de habitantes estava sendo soterrada pela poluição plástica. Sachês de água e embalagens para viagem estavam entupindo canais, sujando ruas e transbordando dos aterros sanitários.   

Mas, por mais evidente que fosse o problema, as autoridades municipais queriam saber exatamente quanta poluição plástica Lagos estava gerando. Dados que seriam fundamentais para o desenvolvimento de soluções políticas. Assim, a cidade entrou em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) para realizar a primeira auditoria de seus resíduos.   

Os resultados foram surpreendentes. Cerca de 34 kg de resíduos plásticos por pessoa por ano estavam vazando para o sistema de água de Lagos. Isso equivale a cada morador de Lagos jogando 10 garrafas plásticas nos cursos d'água todos os dias. 

Segundo autoridades de Lagos, as revelações levaram o governo do Estado de Lagos, em 2024, a proibir todos os recipientes de alimentos descartáveis feitos de espuma de poliestireno, mais conhecida como isopor. “Os dados nos convenceram a agir com vontade política,” diz Tokunbo Wahab, Comissário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do governo do Estado de Lagos. 

Lagos faz parte de um número crescente de cidades que estão tentando usar dados, muitas vezes meticulosamente coletados por meio de visitas a lixões e pesquisas domiciliares, para controlar o desperdício de plástico e acabar com a poluição plástica. A pesquisa gerou proibições de plásticos descartáveis e novos investimentos em infraestrutura de gerenciamento de resíduos. Especialistas dizem que medidas como essas são cruciais para conter a poluição plástica, que eles chamaram de ameaça crescente ao meio ambiente.   

"No mundo inteiro, existem lacunas de dados e problemas de confiabilidade quando se trata de resíduos plásticos e poluição plástica", diz Sinikinesh Jimma, chefe da Divisão Marinha e de Água Doce do PNUMA. "Conectar isso é crucial para desenvolver políticas baseadas em evidências e combater esta crise crescente." 

O mundo gerou cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos em 2024, de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Espera-se que esse número quase triplique nos próximos 25 anos, com alguns dos aumentos mais acentuados ocorrendo nos países em desenvolvimento, especialmente nas regiões da África e da Ásia-Pacífico. Se as tendências atuais se mantiverem, grande parte desse plástico acabará em rios, lagos e oceanos.  

 A view of a clogged up canal filled with styrofoam and single use plastic at Obalende in Lagos on 23 January 2024.
 Cerca de 34 kg de resíduos plásticos por pessoa, por ano, estavam vazando para o sistema de água de Lagos. Isso é o equivalente a cada residente de Lagos jogar 10 garrafas plásticas de água nos cursos d'água todos os dias. Crédito: AFP/ Benson Ibeabuchi 

Por mais disseminados que sejam os resíduos e a poluição plástica, há uma escassez de dados sobre o problema, diz Jimma. Isso dificulta que autoridades governamentais justifiquem investimentos caros em infraestrutura de gestão de resíduos, como centros de reciclagem. 

Mas esforços estão em andamento para fornecer aos responsáveis locais e nacionais os dados que precisam. O PNUMA e o ONU-Habitat, por exemplo, desenvolveram o que é conhecido como ‘Waste Wise Cities Tool’, uma série de diretrizes que ajudam as cidades a medir quanto resíduo plástico estão gerando. 

A ferramenta serviu de base para uma auditoria na movimentada cidade portuária de Mombaça, no Quênia. Lá, autoridades examinaram o lixo de dezenas de famílias voluntárias, tanto de alta quanto de baixa renda, catalogando a quantidade de plástico e outros resíduos presentes. Pesquisadores também visitaram aterros sanitários, registrando o volume de resíduos plásticos e anotando se eles provinham de coletores formais ou informais. 

A pesquisa revelou que apenas cerca de 50% dos resíduos de Mombaça eram coletados e apenas 5% foram recuperados em 2020. Os dados ajudaram a cidade a atrair financiamento para uma usina de triagem de resíduos plásticos. Duas agências internacionais de ajuda estão agora avaliando um investimento em larga escala que melhoraria todo o sistema de resíduos sólidos urbanos de Mombaça. 

As diretrizes de medição de resíduos desenvolvidas em parceria com o PNUMA estão “fornecendo os dados científicos que estamos utilizando para desenvolver propostas de projetos viáveis financeiramente e mobilizar recursos e investimentos do setor privado,” disse Francis Thoya, vice-governador do condado de Mombaça. 

Especialistas afirmam que a falta de dados globais relacionados a resíduos e poluição faz parte de uma lacuna maior de informações sobre o plástico. Existem poucas métricas abrangentes que tratam de aspectos como a produção de polímeros plásticos e como os produtos plásticos são projetados, fabricados e reciclados. 

"Uma compreensão holística de todo o ciclo de vida dos plásticos, desde a produção até o descarte, é necessária para desenvolver estratégias abrangentes que combatam efetivamente a poluição plástica", diz Jimma. 

Os dados relacionados a resíduos de Mombaça e de outras cidades estão sendo integrados ao Hub Global de Plásticos (Global Plastics Hub), uma plataforma desenvolvida pelo PNUMA com o apoio da Parceria Global sobre Poluição Plástica e Lixo Marinho (Global Partnership on Plastic Pollution and Marine Litter). O hub, financiado pelos governos do Japão, Noruega e Estados Unidos, foi criado para ser um ponto central onde autoridades governamentais – e outras partes interessadas – possam acompanhar 80 indicadores relacionados à poluição plástica. O portal está entre as plataformas mais completas do tipo no mundo. Painéis detalhados por país monitoram quanto plástico é comercializado, como os resíduos plásticos são gerenciados e quais políticas existem para combater a poluição plástica. O objetivo é ajudar os países a tomarem decisões mais informadas sobre como enfrentar esse desafio ambiental. 

O Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, uma data comemorativa da Terra promovida pelo PNUMA, terá como foco soluções para acabar com a poluição plástica. Isso acontece num momento em que os resíduos plásticos globais — frequentemente associados à poluição — devem chegar a quase 1 bilhão de toneladas por ano até 2060. 

“Muitas cidades estão perdendo tempo para enfrentar esse problema,” diz Jimma. “É muito importante que os municípios preencham as lacunas de dados e avancem na redução da poluição plástica.” 

O trabalho do PNUMA é viabilizado por contribuições flexíveis dos Estados Membros e outros parceiros ao Fundo para o Meio Ambiente, assim como aos fundos do PNUMA para Clima, Natureza e Poluição. Esses fundos permitem soluções ágeis e inovadoras para as mudanças climáticas, a perda da natureza e da biodiversidade, além da poluição e dos resíduos. Saiba como apoiar o PNUMA a investir nas pessoas e no planeta. 

 

Dia Mundial do Meio Ambiente 

O Dia Mundial do Meio Ambiente, observado em 5 de junho, é a principal data internacional dedicada ao meio ambiente. Liderado pelo PNUMA e realizado anualmente desde 1973, o evento se tornou a maior plataforma global de conscientização ambiental, com milhões de pessoas ao redor do mundo engajadas na proteção do planeta. Neste ano, o Dia Mundial do Meio Ambiente se une à campanha #AcabeComAPoluiçãoPlástica, liderada pelo PNUMA. 

Desde 2018, a campanha #AcabeComAPoluiçãoPlástica, liderada pelo PNUMA, defende uma transição justa, coletiva e global para um mundo livre da poluição plástica.