Photo: UNEP
03 Mar 2022 Reportagem Direitos e governança ambiental

Como Nairobi virou a cidade-sede do PNUMA

Uma série de certificados e lembranças pendurados na parede traseira do escritório de Donald Kaniaru celebram sua carreira tanto no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como no governo do Quênia.

No entanto, hoje aposentado, seu documento mais precioso está guardado em sua mesa: uma cópia do acordo que tornou Nairóbi a sede do PNUMA.

O estabelecimento do PNUMA em 1972 não só levou os problemas ambientais para o palco global, mas também marcou a primeira vez em que uma organização internacional estaria sediada no sul global. E Kaniaru, na época um jovem de 30 anos que dirigia a divisão jurídica do governo queniano, desempenhou um papel fundamental na história da fundação do PNUMA.

Apoio dos países em desenvolvimento

A gênese por trás da seleção de Nairóbi pode ser traçada a partir de 1965, quando a cidade se candidatou, sem sucesso, à sede da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial Isso estimulou Nairóbi a adotar uma abordagem diferente oito anos mais tarde na corrida para sediar o PNUMA.

“Eu estava na delegação queniana naquela época apoiando o embaixador. A resolução proposta pelo Quênia [declarou] que, dado que outras sedes estavam na América do Norte e na Europa Ocidental, deveria haver equidade”, explica Kaniaru.

Segundo ele, o Quênia “protestou” e “persistiu”, o que levou as Nações Unidas a enviarem uma equipe de avaliação a Nairóbi.

"Fui enviado a Nairóbi imediatamente naquela tarde para me encontrar com a equipe. O governo do Quênia havia feito consultas aos mais altos níveis. Assim, foi possível [resolver] as preocupações”.

Ao mesmo tempo, o Quênia garantiu o apoio de outros países que também haviam se candidatado à sede do PNUMA, incluindo a Cidade do México e Nova Delhi. A partir dessa frente unida, a candidatura de Nairóbi foi oficialmente aprovada em 15 de dezembro de 1972 durante a 27º Sessão da Assembleia Geral da ONU, que contou com a participação de todos os Estados membros. A proposta obteve 128 votos a favor, sem votos contra e sem abstenções.

“A história foi feita”, declara Kaniaru. “Esta instituição estaria em Nairóbi, Quênia.”

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Sede do PNUMA hoje. Foto: PNUMA

Ponto de partida

Com a candidatura aprovada, Kaniaru e sua equipe permaneceram comprometidos em garantir que o PNUMA rapidamente se estabelecesse em sua nova sede. Em outubro de 1973, o Programa havia se estabelecido no Kenyatta International Convention Centre. Dois anos depois, ganhou uma nova localização em uma antiga fazenda de café nos arredores de Nairóbi, onde permanece até hoje.

"O Quênia estava totalmente empenhado. Um acordo de sede foi rapidamente firmado — foi a decisão mais rápida tomada em qualquer lugar em qualquer sede”, afirma. "Foi uma excelente oportunidade. Houve uma grande alegria".

A alegria mencionada por Kaniaru se manteve intacta por todos estes anos: conforme conta sua história, algumas risadas interrompem suas palavras.

“Parecia que estávamos dando a primeira oportunidade desta natureza para os países do hemisfério sul. E, é claro, fazem 50 anos que o PNUMA orgulhosamente se instalou nesta parte do mundo”.

Kaniaru se uniu ao PNUMA em 1975, onde ocuparia diversos cargos, incluindo diretor da Divisão de Implementação de Políticas Ambientais, no qual permaneceu até a aposentadoria, três décadas depois.

Após 50 anos de existência, o Quênia ainda considera o PNUMA como uma organização única no Sistema ONU que dá voz aos países do sul global quanto a preocupações ambientais e engaja o mundo em soluções práticas.  

"O PNUMA é uma jóia. É um veículo para que nós, que vivemos no Sul, sejamos capazes de articular nossas preocupações relacionadas à sustentabilidade ambiental", diz a Embaixadora Rachelle Omamo, Secretária de Gabinete para as Relações Exteriores do Quênia.

Ao longo do tempo, o PNUMA mostrou ser uma plataforma mobilizadora que articula preocupações ambientais globais e defende ações concretas.

Nós iniciamos o que é hoje, ao meu ver, uma história de muito sucesso e uma organização bem sucedida.

Donald Kaniaru

PNUMA aos 50

Após a Assembleia da ONU para o Meio Ambiente 5.2 (UNEA 5.2) — o órgão decisório de maior nível do mundo sobre o meio ambiente — uma sessão extraordinária chamada PNUMAaos50 será realizada em Nairóbi de 3 a 4 de março para comemorar o aniversário de 50 anos do PNUMA.

A sessão proporciona uma oportunidade para revigorar a cooperação internacional e estimular a ação coletiva para enfrentar a tripla crise planetária de mudança climática, perda de natureza e biodiversidade e poluição e resíduos.

Enquanto o PNUMA dá as boas-vindas às lideranças mundiais e aos representantes dos Estados membros em Nairóbi, Kaniaru diz ser importante refletir sobre o passado e prever os próximos 50 anos - e para além deles - quanto ao importante relacionamento do PNUMA com Nairóbi, o Quênia e o Sul Global.

"Nós movimentamos o que é hoje, ao meu ver, uma história de muito sucesso e uma organização bem sucedida", afirma. "Uma história de esperança e um futuro forte".