O rompimento dos gasodutos da Nord Stream da Europa há mais de dois anos resultou na maior liberação de metano - um poderoso gás de efeito estufa - do planeta causada pelo homem, segundo um novo estudo coordenado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Até 485.000 toneladas de metano vazaram da rede de dutos após uma série de explosões sob o Mar Báltico em setembro de 2022. Isso foi mais do que o dobro do que se pensava anteriormente, revelou o estudo.
O vazamento do Nord Stream já era visto como uma das maiores liberações de metano causadas pelo homem na história. Mas a nova análise do PNUMA, publicada na revista Nature, revela pela primeira vez seu verdadeiro escopo.
O vazamento foi quase cinco vezes maior do que o recorde mundial anterior, uma liberação da instalação de armazenamento de gás natural de Aliso Canyon, nos Estados Unidos. A curto prazo, o vazamento do Nord Stream contribuiu tanto para o aquecimento global quanto 8 milhões de carros dirigindo durante um ano, segundo especialistas.
“Essa liberação foi extraordinária em sua magnitude, mas é apenas a ponta do iceberg”, disse Manfredi Caltagirone, chefe do Observatório Internacional de Emissões de Metano, liderado pelo PNUMA, que fornece dados sobre emissões de metano. “Apesar de seu tamanho gigantesco, as explosões do Nord Stream representaram apenas dois dias de emissões de metano do setor global de petróleo e gás. Há uma enorme oportunidade de lidar com essa poluição, que está sobrecarregando a crise climática.”
O metano, geralmente um subproduto da produção de petróleo e gás, causa cerca de um terço do aquecimento global. Embora só exista na atmosfera por cerca de uma década, ele é mais de 80 vezes mais eficiente em reter o calor do que o gás de efeito estufa mais comum do mundo, o dióxido de carbono.
Estudos anteriores estimaram o vazamento do Nord Stream em algo entre 75.000 e 230.000 toneladas. A análise do PNUMA, coordenada pelo Observatório Internacional de Emissões de Metano, baseou-se em novas informações para trazer uma visão mais abrangente do desastre. Os pesquisadores usaram dados atmosféricos, imagens de satélite e observações marinhas, medições aéreas e estimativas de engenharia para avaliar a quantidade de metano dissolvido no Mar Báltico e que depois escapou para a atmosfera.
A análise incluiu as únicas medições aéreas no local coletadas das explosões, que foram reunidas pelo Centro Aeroespacial Alemão e pela Technische Universität Braunschweig, na Alemanha.
Cerca de 70 cientistas de 30 organizações de pesquisa participaram do estudo. Eles concluíram que a “faixa plausível” do vazamento do Nord Stream era de 445.000 a 485.000 toneladas.
“O trabalho do observatório mostra que o uso de diferentes ferramentas de observação e estimativa é essencial para permitir a avaliação da magnitude das emissões, um primeiro passo para priorizar ações para reduzir as emissões de metano”, disse Andrea Hinwood, cientista-chefe do PNUMA.
O estudo do Nord Stream faz parte de um esforço maior do PNUMA para ajudar o mundo a entender e controlar as emissões de metano. Outra parte desse esforço é o Sistema de Alerta e Resposta ao Metano, que usa dados baseados em satélite para mapear as principais liberações de metano das instalações de petróleo e gás. Em seguida, o sistema notifica governos e empresas sobre vazamentos, permitindo que eles respondam.
Além desse sistema de alerta, a Parceria de Metano de Petróleo e Gás 2.0 do PNUMA ajuda as empresas de petróleo e gás a medir e relatar suas emissões. Isso é considerado essencial para gerenciar as emissões do setor de forma sistêmica e direcionar os recursos para onde eles podem causar o maior impacto climático.
As emissões de metano estão aumentando mais rapidamente do que em qualquer outro momento desde a década de 1980. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas pediu aos países que reduzam as emissões em pelo menos 30% até 2030 para manter viva a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura da Terra a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
O lado positivo: como o metano tem vida relativamente curta, a redução das emissões pode ter um impacto rápido sobre o aquecimento global, disse Caltagirone.
“As explosões do Nord Stream nos lembram da oportunidade climática imediata representada pela redução das emissões de metano em todo o setor de petróleo e gás.”
O PNUMA está na vanguarda dos esforços globais para reduzir as emissões de metano e limitar o aumento da temperatura global a 1,5˚C. O PNUMA trabalha por meio de duas iniciativas, a Coalizão Clima e Ar Limpo ( Climate and Clean Air Coalition – CCAC) e o Observatório Internacional de Emissões de Metano, para preencher a lacuna entre dados, políticas e ações para reduzir as emissões de metano. Ambas as iniciativas apoiam a implementação do Compromisso Global de Metano.