Photo by Tomkins Conservation
11 Feb 2021 Reportagem Nature Action

O retorno das onças-pintadas às zonas úmidas de Iberá, na Argentina

Photo by Tomkins Conservation

O maior predador da América do Sul, a onça-pintada, está de volta nas zonas úmidas de Iberá, na Argentina, 70 anos depois que a espécie foi levada à extinção local devido à caça e perda de habitat. Atualmente, cerca de apenas 200 onças-pintadas permanecem na Argentina.

Mariua, uma onça-pintada adulta resgatada no Brasil quando filhote, e seus dois filhotes nascidos em cativeiro, foram soltos no Parque Nacional Iberá em janeiro de 2021. Elas são as primeiras de nove onças- pintadas que deverão repovoar a espécie em uma área protegida de 687,966 hectares, a qual oferece abundância de presas selvagens para os grandes felinos.

Esta também é a primeira soltura de onças-pintadas em um local onde elas foram extintas. É parte de um esforço conhecido como "refaunação" - restaurar as espécies extintas na região, a biodiversidade e os processos naturais para áreas afetadas pela atividade humana.

"A reintrodução cuidadosa de predadores, como as onças-pintadas, pode ajudar a restaurar ecossistemas. Sem estas espécies, a biodiversidade sofre e os serviços que a natureza fornece podem entrar em colapso, desde a mitigação de doenças e proteção do solo até a regulamentação do sistema hídrico", diz Doreen Robinson, chefe para a Vida Selvagem no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O PNUMA e colaboradores, como a Global Rewilding Alliance - um parceiro oficial da Década das Nações Unidas de Restauração de Ecossistemas 2021-2030, apoiam os esforços mundiais de refaunação para ajudar a conter perdas catastróficas de biodiversidade. O PNUMA também está trabalhando na conservação da onça-pintada por meio da campanha Selvagem Pela Vida, que visa ampliar a sensibilização sobre o comércio ilegal da vida selvagem e trabalha com países e comunidades locais para proteger espécies ameaçadas de extinção.

A onça-pintada é o terceiro maior felino do planeta e é um importante ícone cultural para os povos da América Latina. No nordeste da Argentina, o povo Guarani considera a onça-pintada um símbolo de força e um elemento essencial da identidade da região. Mas essa espécie icônica perdeu mais da metade de seu habitat histórico, deixando algumas populações geograficamente isoladas e, em alguns casos, com reservas genéticas reduzidas.

Ação Global

Em 2018, em um momento crítico e incerto para o futuro da onça-pintada, quatro importantes organizações internacionais - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Fundo Mundial para a Natureza, Wildlife Conservation Society e Panthera - se uniram à 14 países da região com ocorrência da onça-pintada (incluindo a Argentina), e lançaram a Estratégia de Conservação da Onça-pintada 2030, apresentada na Conferência das Partes (COP) 14 da Convenção sobre Diversidade Biológica. O plano permite um trabalho transfronteiriço e colaborativo em escala continental.

A proteção da onça-pintada foi considerada uma prioridade pela União Internacional para a Conservação da Natureza durante o Congresso Mundial de Conservação em setembro de 2020. Outro desenvolvimento importante foi a inclusão da onça-pintada nos anexos da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens, também conhecida como Convenção de Bonn, em fevereiro de 2020.

Jaguars
Jaguar Reintroduction Centre, 2019. Photo by Rafael Abuin

"Parabenizamos o governo da Argentina, os Parques Nacionais da Argentina e a Província de Corrientes por seu compromisso na recuperação desta espécie icônica", disse Kristine Tompkins, presidente da Tompkins Conservation e Patrona de Áreas Protegidas do PNUMA. "Ao iniciarmos a Década da ONU de Restauração de Ecossistemas 2021-2030, é hora de reconhecer o papel central que a reintrodução da vida selvagem pode desempenhar na restauração da estabilidade climática e da saúde do planeta".

Trazer de volta grandes predadores como a onça-pintada e a ariranha, assim como espécies portadoras de sementes como queixadas e araras, está ajudando as áreas úmidas de Iberá a se recuperar dos efeitos da caça e de décadas de pastagem de gado e plantações de monocultura, de acordo com Sebastian Di Martino, Diretor de Conservação da Rewilding Argentina, organização que lidera o projeto e parceiro estratégico da Tompkins Conservation.