Photo by AFP/Bryan Smith
18 Mar 2025 Reportagem Fresh water

Plataforma de dados registra a saúde de quase todos os corpos de água doce da Terra. Veja o que ela revelou!

Photo by AFP/Bryan Smith

À primeira vista, a imagem de satélite do Lago Titicaca, que fica no alto da Cordilheira dos Andes, na fronteira entre Bolívia e Peru, parece normal. Mas olhando mais de perto, você verá uma profusão de vermelhos, amarelos e verdes ao longo da costa.   

As cores representam graficamente a poluição - em grande parte esgotos sem tratamento e escoamento agrícola - que flui para o lago das comunidades vizinhas.   

A imagem de satélite faz parte do Explorador de Ecossistemas de Água Doce (Freshwater Ecosystems Explorer), uma plataforma de dados inovadora desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e parceiros que mostra a saúde de milhões de lagos, rios e pântanos no mundo todo. O site foi projetado para destacar o estado dos ecossistemas de água doce do planeta e as reservas que eles possuem, que especialistas dizem estão sob crescente pressão pelas mudanças climáticas, poluição e uma série de outras ameaças.    

"A água doce é fundamental para a vida neste planeta e esse site está permitindo o acesso à informação vital", disse Sinikinesh Jimma, chefe da Divisão de Água Doce e Marinha do PNUMA. "Quanto mais as pessoas sabem sobre o estado de seus corpos de água doce locais, mais poderão fazer para protegê-los e restaurá-los." 

Jimma fez os comentários pouco antes do Dia Mundial da Água, que cai em 22 de março e tem como objetivo aumentar a conscientização sobre a importância de aprimorar o gerenciamento dos recursos de água doce. Este ano, o dia se concentrará na preservação das geleiras, que estão diminuindo em muitos lugares do mundo. 

De olho no céu

Quer verificar a saúde de um lago, rio ou aquífero perto de você? Então pode começar com uma rápida introdução ao Explorador de Ecossistemas de Água Doce, que se baseia em dados de várias fontes, incluindo satélites. Quando estiver pronto, você pode mergulhar de cabeça no explorador, onde encontrará informações detalhadas sobre a extensão e o estado dos corpos de água doce no mundo todo. 

 

O Explorador de Ecossistemas de Água Doce foi desenvolvido como parte de um esforço da ONU para acompanhar o progresso na base ambiental do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, que exige que todos na Terra tenham acesso a água potável e saneamento até 2030. O progresso em direção à meta está estagnando: em 2022, 2,2 bilhões de pessoas ainda não tinham acesso a água potável gerenciada de forma segura. 

Parte da razão para a falta é o que especialistas chamam de um estado preocupante dos ecossistemas de água doce, que junto com lagos, rios e pântanos incluem aquíferos, manguezais e geleiras. Um relatório apoiado pelo PNUMA de 2024 descobriu que quase metade dos países da Terra tinham pelo menos um ecossistema significativo de água doce em declínio. O relatório culpou a queda por uma série de fatores, incluindo as mudanças climáticas, que está tornando muitos lugares mais secos, o uso excessivo de água, a construção de barragens e a conversão de ecossistemas de água doce, como zonas úmidas, em fazendas ou áreas urbanas. 

Muitos desses desafios foram mostrados pelo Explorador de Ecossistemas de Água Doce, que mapeia qualquer corpo de água na superfície da Terra maior que 30 por 30 metros. Ele oferece o que especialistas chamam de um nível de detalhe sem precedentes, monitorando não apenas poluição, mas também o tamanho dos corpos de água doce, alguns ao longo de décadas. 

Ele mostra, por exemplo, como anos de seca levaram ao encolhimento quase catastrófico da represa do reservatório Theewaterskloof, na África do Sul, que fornece a cidade de Cape Town com água potável. Também mostra como um aumento nas chuvas no Reino Unido e na Irlanda do Norte, que foi associado às mudanças climáticas, fez com que os rios transbordassem, levando a inundações. 

"O explorador destaca como dados robustos podem ajudar países a gerenciar seus recursos de água doce de maneira mais holística e integrada", disse Jimma. "Isso é crucial para salvaguardar este recurso tão precioso para as próximas gerações." 

E dá uma visão aérea do Lago Titicaca, que fica em uma bacia que abriga 3 milhões de pessoas e é alimentado pelo derretimento glacial. O maior lago da América do Sul está se aproximando ao colapso, dizem especialistas, em parte devido ao despejo de esgoto bruto. Dados de satélite mostram onde a água está se tornando cada vez mais turva ou turvada, e onde houve um aumento nos níveis de nutrientes, dois sinais reveladores de poluição. Esse escoamento afeta ecossistemas, saúde humana e a biodiversidade. 

No entanto, nem todas as notícias foram ruins. O explorador mapeou a recuperação de vários corpos de água, incluindo o Lago Urmia, no Irã, onde um esforço para desbloquear seus rios afluentes fez com que os níveis de água subissem em um lago que antes era considerado quase morto. 

Este fato fez parte de uma tendência mais ampla que tem visto países revitalizarem muitos corpos de água doce, incluindo alguns dos rios urbanos mais poluídos do mundo. 

A restauração de ecossistemas de água doce e outros corpos de água interiores é um objetivo central do Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, um acordo histórico de 2022 para interromper e reverter o declínio da natureza. 

O Explorador de Ecossistemas de Água Doce foi desenvolvido pelo PNUMA, pelo PNUA-DHI (Centro de Água e Meio Ambiente do PNUMA), pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia (European Commission Joint Research Centre) e pelo Google. 

O planeta está passando por um perigoso declínio da natureza. Um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, a saúde do solo está em declínio e as fontes de água estão secando. O Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal estabelece metas globais para deter e reverter a perda da natureza até 2030. Ele foi adotado por líderes mundiais em dezembro de 2022. Para abordar os fatores da crise da natureza, o PNUMA está trabalhando com parceiros para agir em paisagens e mares, transformar nossos sistemas alimentares e acabar com a falta de financiamento para a natureza.   

Nota do editor: A matéria foi atualizada em 19 de março de 2025 para refletir corretamente o nome do reservatório que abastece a cidade de Cape Town com água.