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23 Dec 2021 Reportagem Nature Action

Por dentro da corrida de dez anos para salvar o planeta

O último Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho de 2021) marcou o início da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, um impulso global para trazer o mundo natural de volta à vida.

Tim Christophersen, coordenador da Década da Restauração no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), relembra: “este lançamento destrava um movimento global pela restauração da Terra. O maior desafio agora é converter os compromissos firmados por governos, empresas e indivíduos em ações efetivas”.

“Uma década pode parecer muito, mas estamos realmente em uma corrida contra o tempo para manter o planeta da forma como o conhecemos. A Geração Restauração decolou e precisa de um apoio forte e consistente para alcançar nosso objetivo comum: um planeta no qual a humanidade faz as pazes com a natureza”, acrescenta Christophersen.

Abaixo estão alguns marcos dos primeiros seis meses desse movimento de transformação da relação da humanidade com o mundo natural.

Uma visão é criada.

A group of young people planting a tree
Mais da metade dos usuários que utilizam as ferramentas on-line da Década da ONU tem menos de 35 anos. Foto: UICN

A Terra precisa de ajuda. A emergência climática, a perda da natureza e a poluição letal ameaçam destruir a natureza e eliminar até um milhão de espécies. Mas essa degradação pode ser evitada, segundo especialistas. A humanidade tem o poder e o conhecimento necessários para reverter o dano e restaurar as terras e oceanos — caso medidas sejam tomadas agora. Esse é o motivo pelo qual as Nações Unidas declararam a Década da Restauração de Ecossistemas. Até 2030, o mundo precisa reduzir quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa se quiser impedir mudanças climáticas devastadoras. Ainda é preciso um grande progresso para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sejam alcançados, desde a eliminação da pobreza e a eliminação de epidemias, até a conservação da biodiversidade.

Ecossistemas saudáveis são essenciais para que os objetivos de clima e desenvolvimento sejam alcançados. No entanto, é necessário que a restauração e os esforços para descarbonizar a economia estejam atrelados”, observa Christophersen.

Nasce um movimento.

Times Square in New York
Times Square, Nova Iorque, no Dia Mundial do Meio Ambiente 2021. Foto: PNUMA

Desde o lançamento, milhões de pessoas já se uniram à #GeraçãoRestauração ou colaboraram com a causa por meio dos muitos canais existentes, incluindo shows, performances, projetos e campanhas nas redes sociais. São as pessoas jovens, quem tem mais a perder, que aparentam estar tomando a frente da mudança — mais da metade do público que acessa as ferramentas online da Década tem menos de 35 anos.

“A Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas evidentemente provocou reações. Ela exige nada mais que um esforço para deter, reduzir e reverter a degradação da terra e dos oceanos. A forma como essa mensagem tem ressoado mostra que existem convicções profundas em todos os continentes e em todas as partes da sociedade de que a humanidade deve mudar seu rumo e reconstruir a natureza”, destacou Christophersen.

Parcerias são construídas

A ship sailing near the coast of Wales, United Kingdom.
Embarcação replanta gramas marinhas no litoral do País de Gales, Reino Unido. Foto: Jake Davies / Projecto Seagrass

Além de lançar a #GeraçãoRestauração, a Década da ONU também aproveita o conhecimento e a capacidade de muitas organizações parceiras. Por meio da liderança do PNUMA e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Década já firmou mais de 90 parcerias com instituições como ONU família, governos, empresas, bancos de desenvolvimento, organizações não governamentais, grupos da sociedade civil e iniciativas populares de sustentabilidade. Nos próximos anos, esses parceiros planejam expandir os projetos de restauração.

Promessas são feitas

An aerial shot of scrubland
A Grande Muralha Verde tem como objetivo reviver o Sahel — uma região onde 80% da terra foi degradada. Foto: Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD)

Mesmo em meio à batalha contra a COVID-19, os governos têm mantido ou reforçado suas promessas de restaurar ecossistemas degradados. Em geral, os países ao redor do mundo estão empenhados em restaurar quase um bilhão de hectares — uma área maior do que a China. Durante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021 em Glasglow, mais de 140 países prometeram acabar com o desmatamento até 2030. Na Europa, as autoridades estão trabalhando em metas de restauração da natureza que serão obrigatórias por lei em toda a União Europeia. Além disso, dezenas de países juntaram-se ao chamado por um compromisso global para proteger ao menos 30% das terras e oceanos até 2030. Instituições multilaterais, como o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF na sigla em inglês), filantrópicas, incluindo o Bezos Earth Fund, e empresas, como a companhia elétrica E.ON e a marca de beleza Dove, também têm firmado compromissos importantes para iniciativas como a Grande Muralha Verde pelo Sahel e a restauração florestal da Sumatra.

No entanto, pouco se sabe sobre o progresso dos compromissos ou a qualidade da implementação. “Ver este entusiasmo pela restauração é fantástico. Ao longo dos próximos anos, o monitoramento e controle de qualidade precisam melhorar mundialmente para que as promessas sejam cumpridas — e a restauração seja feita corretamente”, Christophersen apontou.

Ecossistemas sob os holofotes

A woman planting a tree
A restauração de ecossistemas pode ser feita de muitas formas, conforme as condições locais. Foto: PNUMA / Florian Fussstetter

Para além de florestas e terras agrícolas, rios e lagos, a Década da ONU está sensibilizando as pessoas e impulsionando ações em prol de uma ampla gama de ecossistemas e paisagens cujos benefícios para as pessoas e o planeta são menos conhecidos. Entre eles estão turfeiras, montanhas, áreas de pastagem e oceanos.

A década da ONU está ajudando a proteger as áreas costeiras e revitalizando prados e manguezais que protegem as vidas e a subsistência das comunidades litorâneas. No Reino Unido, por exemplo, o Projeto Seagrass foi pioneiro em técnicas eficazes de restauração de prados de gramas marinhas e se expande ao largo da costa galesa.

Nos Andes, um projeto comunitário implementado em seis países está intensificando a proteção e a restauração de um milhão de hectares das florestas tropicais de altitude que alimentam os sistemas hídricos da Amazônia. As comunidades indígenas estão na linha de frente da iniciativa Acción Andina, uma das parceiras da Década da ONU.

Outra parceria entre o PNUMA, a União Internacional para a Conservação da Natureza e o Fundo Mundial para o Meio Ambiente está restaurando as áreas degradadas pela pastagem na Ásia Ocidental. Partindo da revitalização do manejo tradicional da área rural no Egito e na Jordânia, o projeto já começou a reverter a erosão do solo e a regenerar a vegetação nativa.

As turfeiras constituem apenas 3% da Terra, mas armazenam 30% do carbono terrestre. Este ecossistema subestimado com frequência ganhou destaque na COP26 em novembro. Por exemplo, o governo escocês se comprometeu a investir mais de 250 milhões de libras esterlinas para restaurar 250.000 hectares de turfeiras degradadas até 2030.

Orientações científicas são estabelecidas

A man lying in the grass with scientific instruments.
Pesquisador avalia as mudanças nas turfeiras de Kalimantan, Indonésia. Foto: CIFOR / Deni Sasmito  

Não há uma solução rápida para os ecossistemas da Terra, segundo especialistas. Restaurar o planeta requer um enorme esforço de muitos atores que trabalham em diversas circunstâncias e em proporções que incluem desde quintais, parques locais e bacias hídricas até áreas protegidas transfronteiriças. É um empenho que demanda planejamento, recursos e paciência, e o sucesso não é garantido. A fim de maximizar o impacto da Década da ONU, seus parceiros especializados elaboraram princípios nítidos e uma série de diretrizes, guias e toolkits.

Surge uma esperança

Refletindo sobre 2021, Christophersen conclui: “A Década da ONU teve um início forte. Milhões de pessoas já estão se envolvendo e uma estrutura forte vem sendo adotada. Mas esse esforço de dez anos só concretizará o enorme potencial de restauração de ecossistemas em prol do clima, da biodiversidade e das pessoas se as promessas forem adequadamente financiadas e efetivamente implementadas”.