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25 Nov 2021 Reportagem Ocean & Coasts

Reformular o turismo para o combate à poluição plástica

Na intersecção rumo a uma maior sensibilização ambiental, entre medidas mais rigorosas de saúde pública e o retorno da indústria do turismo, encontra-se uma ameaça persistente: a poluição plástica.

Pesquisas revelam que o aumento da produção do plástico e o uso de equipamentos de proteção individual em 2020, em resposta à pandemia de COVID-19, contribuiu significativamente para a poluição plástica nas praias e em outros ambientes.

No entanto, não é apenas a pandemia de COVID-19 que está provocando um aumento dessa poluição. O novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Da Poluição à Solução: uma análise global sobre lixo marinho e poluição plástica, mostra que esse problema vem aumentando ano após ano, mesmo antes da pandemia.

Atualmente, há entre 75 e 199 milhões de toneladas de resíduos plásticos no oceano. Em 2016, entre 9 a 14 toneladas de resíduos entraram no ecossistema aquático. Estima-se que até 2040, no entanto, esse número terá quase triplicado para 23 a 37 milhões de toneladas por ano. Os plásticos são os maiores, mais nocivos e mais resistentes dos lixos marinhos, e representam pelo menos 85% de todos os resíduos presentes nos mares.

São necessárias mudanças nas abordagens de quem viaja, bem como dos governos e instituições, para enfrentar a crise de plásticos e proteger a saúde humana e o equilíbrio ambiental.

Escolhas de viajantes

Especialistas afirmam que reduzir o consumo de produtos plásticos de uso único e aderir a medidas sanitárias e de saúde pública para proteção contra a COVID-19 e outras doenças não anulam um ao outro.

“Durante a pandemia, vimos uma concepção equivocada em relação a produtos reutilizáveis, tais como garrafas de água de aço, serem menos seguras que garrafas plásticas de água de uso único”, diz Helena Rey de Assis, Gerente de Programa do PNUMA. “Essa percepção incorreta aumentou o consumo de produtos plásticos de uso único e afetou as regulamentações governamentais e dos operadores turísticos. Artigos e embalagens plásticas de uso único não são medidas de higienização isoladas, pois o vírus pode sobreviver nelas, além de poderem ser contaminadas durante o transporte ou manuseio”.

Rey de Assis explica que turistas podem tomar medidas para reduzir a quantidade de lixo que geram, ao mesmo tempo em que economizam custos. Trazer as próprias bolsas, garrafas de água e artigos de higiene pessoal pode diminuir o peso sobre o lixo local e o sistema de reciclagem. Também reduziria gradualmente a dependência das economias locais de produtos plásticos de uso único.

A plataforma Mares Limpos do PNUMA — a maior coalizão mundial dedicada a acabar com a poluição marinha por plástico — produziu um projeto interativo intitulado “O que há em seu banheiro?”, destacando a prevalência do plástico em produtos de cuidados pessoais comuns. Como muitos desses produtos estão disponíveis nos alojamentos turísticos, a mudança para alternativas viáveis pode ajudar a reduzir a ameaça do plástico.

Legislação governamental

Discarded plastic bottles, glass bottles and slippers piled on a beach.
Turistas e hospedagens podem usar produtos reutilizáveis para diminuir o impacto da poluição plástica nas praias e nos ecossistemas marinhos. Unsplash/ John Cameron

O esforço para reduzir a poluição plástica não depende apenas de indivíduos. Legislações fortes têm se mostrado um meio eficaz para proibir, reduzir ou eliminar gradualmente o plástico de uso único.

As proibições podem levar o setor turístico local a fazer inovações, fornecer aos visitantes opções favoráveis ao meio ambiente e educar os consumidores. No Quênia, a proibição dos plásticos de uso único tem solucionado a “catástrofe da poluição plástica”, de acordo com Najib Balala, Secretário de Gabinete do Ministério do Turismo e Vida Selvagem do Quênia.

“A proibição melhorou o estado das praias e parques nacionais quenianos, com redução da poluição plástica visível”, diz Balala. “Os esforços devem ser globais porque, mesmo que limpemos nosso país, sempre teremos plásticos lançados de navios em alto mar e levados para nossas praias. Portanto, eu gostaria de fazer um apelo mundial para que as pessoas reduzam a utilização de plásticos de uso único e, eventualmente, os eliminem completamente”.

Incentivos institucionais

Operadores de turismo, empresas e instituições também podem tomar a iniciativa de apoiar voluntariamente a eliminação da dependência de plástico do setor. A liderança na redução voluntária do uso do plástico pode trazer benefícios comerciais. Por exemplo, menos lixo pode resultar em paisagens mais bonitas e em mais visitantes.

A Iniciativa Global pela Circularidade do Plástico no Turismo (GTPI, na sigla em inglês), coliderada pelo PNUMA, demanda o comprometimento de governos nacionais e regionais, empresas privadas e organizações de apoio do setor de turismo em reduzir a poluição plástica e migrar rumo à circularidade até 2025.

A plataforma on-line de viagens Booking.com é uma das mais de cem signatárias da GTPI que se comprometem a criar uma economia circular de plásticos. Esse compromisso conta com etapas para a eliminação de plásticos de uso único enquanto mantém os protocolos de saúde.

“Embora concordemos que a saúde e a segurança são de suma importância, também vimos que muitos de nossos parceiros desconheciam opções alternativas e sem plástico que ofereçam níveis elevados de limpeza e higiene em suas propriedades”, disse Thomas Loughlin, líder de fornecimento sustentável da Booking.com. “É por isso que publicamos nossas próprias diretrizes em parceria com a GTPI. Queríamos a certeza de que nossos parceiros tivessem acesso a uma variedade mais ampla de informações confiáveis e práticas, para poderem tomar decisões mais informadas sobre como enfrentar esses desafios de maneira sustentável”.

O PNUMA se uniu ao Flipflopi, um movimento para a economia circular com sede na África Oriental, e à Routes Adventure, para lançar um curta chamado "Pieces of us" ("Pedaços de nós", em português), ambientado no destino turístico de Lamu, no Quênia. O filme destaca o papel que visitantes desempenharam na mudança da economia local em direção a uma economia baseada em produtos orientados ao turista.

A partir das restrições impostas pela pandemia, viajantes, governos e instituições têm uma oportunidade única de transitar para uma indústria de turismo que tenha a sustentabilidade como essência. Agora é o momento de combater a poluição plástica e garantir um futuro menos poluente, mais resiliente e mais economicamente viável.

 

 

 

Contato: para mais informações, favor entrar em contato com Helena Rey de Assis, Gerente de Programas do PNUMA: helena.rey@un.org or Andrina Beaumond, Coordenadora da Campanha Mares Limpos andrina.beaumond@un.org.

 

A Iniciativa Global Sobre Plásticos de Turismo, desenvolvida no âmbito do Programa de Turismo Sustentável da One Planet Network, é liderada pelo PNUMA e pela Organização Mundial de Turismo (UNWTO, na sigla em inglês), em colaboração com a Fundação Ellen MacArthur. Em 2020, o PNUMA, a UNWTO, a Fundação Ellen MacArthur e a GTPI lançaram as “Recomendações para o setor de turismo continuar enfrentando a poluição plástica durante a recuperação pós-COVID-19”.