06 Nov 2018 Reportagem Desastres e conflitos

Biodiversidade deve ser protegida dos efeitos da guerra e do conflito armado

Tempos de guerra podem acelerar a degradação ambiental.Enquanto as pessoas lutam para sobreviver,os sistemas de gestão ambiental colapsame provocam danos a ecossistemas essenciais.

Por mais de seis décadas, conflitos armados foram registrados em mais de dois terços dos principais pontos de biodiversidade do mundo, representando severa ameaça aos esforços de conservação.

Em 2001, considerando o fato de que o meio ambiente frequentemente permaneceu como uma vítima não publicizada da guerra, a Assembleia Geral da ONU declarou 6 de novembro como o Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempos de Guerras e Conflitos Armados.

Em 27 de maio de 2016, a Assembleia da ONU para o Meio Ambiente (UNEA) adotou uma resolução que reconheceu o papel da saúde dos ecossistemas e de recursos geridos de forma sustentável na redução dos riscos de conflito armado, e reafirmou seu forte compromisso com a total implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Na ocasião do 17º aniversário desde a aprovação da data, a ONU Meio Ambiente reuniu abaixo alguns lembretes históricos e contemporâneos do porque precisamos proteger a biodiversidade dos efeitos diretos e indiretos das guerras e dos conflitos armados.

 

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O agente laranja, um desfolhante à base de dioxinas, tem sido associado a problemas de saúde e casos de envenenamento por mais de 3 milhões de pessoas no Vietnã. REUTERS / Kham

1. Agente Laranja: por aproximadamente uma década, entre 1961 e 1971, durante a Guerra do Vietnã, militares norte-americanos espalharam milhões de litros de herbicidas e desfolhantes em vastas faixas do sul do Vietnã. A substância química mais disseminada foi o Agente Laranja, parte de uma destruição deliberada de florestas para privar as guerrilhas vietnamitas de sua proteção e camuflagem para atacar as forças dos Estados Unidos.

 

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Os conflitos armados no Congo foram em parte impulsionados pela disputa pelo controle dos vastos recursos naturais do país, como ouro, diamantes e madeira. REUTERS/Finbarr O'Reilly

2. Guerras civis congolesas: desde meados dos anos 1990, uma série de conflitos armados sangrentos na República Democrática do Congo teve efeitos devastadores sobre as populações de animais selvagens, que têm servido como fonte de proteína para combatentes, civis que lutam pela sobrevivência e comerciantes. Consequentemente, pequenas espécies como antílopes, macacos e roedores, assim como grandes animais, como gorilas e elefantes selvagens, tiveram que arcar com o ônus da guerra. Apesar de haver muitas causas para esses conflitos — históricas, étnicas e políticas — a busca por controle, acesso e uso de recursos naturais tem sido um fator-chave para a violência. Os conflitos e a ilegalidade resultante também encorajaram criminosos a promover desmatamentos e processos danosos de mineração.

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A quase total destruição dos pântanos do Iraque foi um grande desastre ecológico e humano, prejudicando uma cultura secular REUTERS / Atef Hassan

3. Pântanos do Iraque e poços de petróleo queimados: no início dos anos 1990, as tropas de Saddam Hussein drenaram os pântanos da Mesopotâmia, o maior ecossistema de terras úmidas do Oriente Médio, situado na confluência dos rios Tigre e Eufrates, em resposta a um levante xiita no sul do Iraque. Uma série de diques e canais reduziu os pântanos a menos de 10% de sua extensão original e transformou a paisagem em um deserto com crostas de sal. Mais recentemente, em 2017, militantes do Estado Islâmico incendiaram poços de petróleo na cidade de Mosul, no sul do país, liberando assim um coquetel tóxico de produtos químicos no ar, na água e na terra.

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A proteção do meio ambiente foi dificultada no Afeganistão devido a anos de conflito que levaram à extensa degradação das paisagens e à perda de terras aráveis. Foto: ONU Meio Ambiente /Zahra Khodadadi

4. As florestas do Afeganistão: décadas de conflito destruíram mais da metade das florestas do país. O Afeganistão foi desmatado em até 95% em algumas áreas, parcialmente devido às estratégias de sobrevivência e ao colapso da governança ambiental durante décadas de guerra. O extenso desmatamento teve múltiplas implicações sociais, ambientais e econômicas para milhões de afegãos, incluindo o aumento da vulnerabilidade a vários desastres naturais, como enchentes, avalanches e deslizamentos de terra.

5. Ecossistemas do Nepal: durante o conflito armado entre 1996 e 2006, o exército, anteriormente responsável pela proteção das florestas, foi mobilizado para operações de contra-insurgência. Isso resultou na exploração irresponsável da vida selvagem e dos recursos vegetais, como ervas medicinais, incluindo Yarsagumba (Cordyceps sinensis) e Chiraito (Swira Chiraita), entre outros, por insurgentes e civis em áreas como o Parque Nacional Khaptad, na área de Conservação Makalu Barun.

6. Mineração e extração de madeira na Colômbia: décadas de mineração de extração de ouro não regulamentada no país causaram danos ambientais em áreas controladas pelos rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Mineração, juntamente com a extração ilegal de outros recursos naturais, como a exploração madeireira, foi uma das principais fontes de financiamento para os rebeldes. Resultou na poluição de rios e terras com mercúrio, especialmente na bacia do rio Quito.

Apesar dos riscos que a guerra e os conflitos armados colocam para o meio ambiente, e do papel que os recursos naturais podem desempenhar no abastecimento ou na ampliação de conflitos armados, há também oportunidades significativas que ligam o meio ambiente e a construção da paz.

A ONU Meio Ambiente se uniu ao Instituto de Lei Ambiental, ao Instituto da Terra da Universidade de Columbia, à Duke University e à Universidade da Califórnia em Irvine para desenvolver um curso online sobre segurança ambiental e a construção da paz sustentada.

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