15 Mar 2019 Reportagem Direitos e governança ambiental

Entretenimento como ferramenta para a ação ambiental

A mídia é uma aliada do meio ambiente. Por meio do entretenimento, podemos fazer com que as pessoas defendam as questões ambientais - além de aumentar a sensibilização sobre o assunto. Podemos promover soluções para os desafios ecossistêmicos e influenciar positivamente decisões que afetam o nosso ambiente.

Durante a Assembléia do Meio Ambiente da ONU deste ano, foi organizado um painel de debates voltado para explorer como o entretenimento pode ser usado para alcançar apoio público em prol de uma maior proteção ambiental. Entre os participantes estiveram representantes da Globo, maior empresa de mídia da América Latina, e da Brave Bison, cujos vídeos geram 6 bilhões de visualizações por mês.

A indústria do entretenimento está se expandindo e as mensagens socioambientais podem fazer parte deste crescimento.

"Precisamos entender o que o nosso público precisa em termos de entretenimento e, depois, passar nossas mensagens nisso", disse Racheal Nakitare, chefe de programação da Kenya Broadcasting Corporation.

Atualmente, a educação ambiental por meio da mídia sofre com o engajamento limitado, o cansaço do público e com a subutilização de certos formatos de engajamento.

Há uma necessidade de desenvolver conteúdos criativos que alcancem um público amplo, abordem as preocupações ambientais e estimulem a solução de problemas.

O meio ambiente no entretenimento

Nas diferentes mídias sociais e digitais, cerca de 2 bilhões de buscam são feitas por mês para a palavra sustentabilidade (e termos similares). Aproximadamente 80% das pesquisas no YouTube são realizadas por usuários em busca de novos conhecimentos.

Há interesse e demanda por conteúdo informativo sobre o meio ambiente, mas ele precisa se tornar mais divertido e envolvente.

Atualmente, as mensagens destinadas a mobilizar ações podem ser consideradas pragmáticas e chatas. E quando um conteúdo interessante é criado, pode ser difícil compartilhá-lo amplamente. Parcerias são cruciais para espalhar as mensagens ambientais

Telenovela

O entretenimento relacionado ao meio ambiente pode envolver filmes, telenovelas, séries na internet ou streaming e Snapchat. A Globo abraçou esse espírito e trabalhou com a ONG Conservação Internacional (CI) para criar uma telenovela, indicada ao Emmy, que abordou questões ambientais, como pesticidas e sua ligação com a saúde. Ilustrativamente, as empresas de mídia e as organizações ambientais podem trabalhar juntas na educação ambiental, pois o público está cada vez menos dividido por território e cada vez mais por interesse.

A Maria Farinha Filmes, junto com a Globo, está lançando o primeiro thriller ambiental do mundo este ano: Aruanas. Esta série de TV mostra quatro mulheres, que lideram uma organização não-governamental que luta pela justiça ambiental na Amazônia, enquanto equilibram suas vidas pessoais.

O meio ambiente no entretenimento não precisa parecer diferente do entretenimento em geral. De fato, os esforços anteriores conseguiram abordar com sucesso questões, como doenças sexualmente transmissíveis e discriminação, por meio do entretenimento convencional. A experiência da Globo em promover mudanças sociais em seus programas foi positiva, com audiências abertas e interessadas em mais conteúdo.

Houve consenso entre os painelistas de que as mensagens relacionadas ao meio ambiente são esmagadoramente negativas. Repetidamente, ficou provado que o público se envolve mais com notícias positivas do que com conteúdo negativo. Não apenas as pessoas têm menos probabilidade de assistir ou ouvir mensagens negativas, mas as mensagens positivas têm muito mais probabilidade de convidar para a ação.

"Precisamos encontrar maneiras de envolver as pessoas nas soluções e não apenas nos problemas... Não podemos ser o que não podemos ver", disse a produtora Luana Lobo.

As mensagens ambientais podem impulsionar mudanças, se atuarem como um canal que difunde soluções e que podem ser incorporadas de maneira coerente em estratégias organizacionais maiores para mudança comportamental.

Além disso, para promover mudanças por meio do entretenimento é vital envolver os jovens. Criticamente, só podemos nos envolver com os jovens nos termos deles. Isso significa criar um conteúdo que usa vídeo (80% do tráfego da internet até o final de 2019) e opera em smartphones e mídias sociais.

A Bravos Bison criou o canal Mutha para engajar jovens e combater a cobertura negativa sobre questões de sustentabilidade. Ele celebra a vida sustentável e consciente, criando conteúdo que compartilha ações positivas para inspirar seu público a mudar comportamentos. Apresentado por jovens, para jovens, no Youtube, Facebook, Instagram e Snapchat, os temas abordam desde desafios sem carne até moradia.

Para impulsionar a ação ambiental com o entretenimento, é necessário que haja:

  • Narrativas positivas sobre o nosso meio ambiente
  • Mensagens ambientais no entretenimento convencional
  • Esforços para guiar o público de uma consciência do problema para o papel de defensores do problema
  • Trabalho conjunto para produzir e disseminar conteúdo
  • Engajamento de jovens com conteúdo que eles respondem
  • Forte capacidade de comunicação entre os envolvidos em criar mensagens ambientais

Panel
Um painel centrado nas mulheres: da esquerda para a direita, Niamh Brannigan, da ONU Meio Ambiente, Beatriz Azeredo, TV Globo, Luana Lobo, Maria Farinha Filmes, Claire Huntgate, Brave Bison.

Para mais informações: roberta.zandonai@un.org