Photo by UNEP/ Duncan Moore
05 Sep 2023 Reportagem Nature Action

5 principais impulsionadores da crise ecológica

Photo by UNEP/ Duncan Moore

Os seres humanos introduziram mais de 37.000 espécies invasoras, muitas nocivas, nos biomas em todo o mundo, ameaçando uma série de plantas e animais, conclui um novo estudo da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).

O Relatório de Espécies Exóticas Invasoras, produzido por especialistas de 49 países, diz que esses intrusos foram um fator importante em 60% de todas as extinções e que custam à economia global mais de US$ 423 bilhões anualmente. O relatório classificou as espécies exóticas invasoras como uma ameaça ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar humano.

Ele vem em um momento em que mais de 1 milhão de  plantas, animais e outros seres vivos estão enfrentando ameaça de extinção. A publicação chega no momento em que os países trabalham para acelerar a implementação do Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, um acordo histórico para deter e reverter a perda de natureza até 2030.

As espécies exóticas invasoras são um dos cinco principais motores da perda de biodiversidade e o quadro visa "eliminar (ou) reduzir" o seu impacto no ambiente.

Aqui está uma análise mais detalhada das espécies exóticas invasoras, bem como as outras principais causas de perda de natureza identificadas pela IPBES, um órgão independente que visa a ajudar os estados a gerenciar a biodiversidade de forma sustentável.

Espécies invasoras

 

Unsustainable logging greatly contributes to deforestation
As espécies invasivas representam uma ameaça para as espécies nativas e impactam negativamente os ecossistemas. Foto: UNEP/ Stephanie Foote

Espécies exóticas invasoras (EEI) são animais, plantas, fungos e microrganismos que entraram e se estabeleceram no ambiente fora de seu habitat natural. As EEI têm impactos devastadores na vida vegetal e animal nativa, causando o declínio ou mesmo a extinção de espécies nativas e afetando negativamente os ecossistemas.

A economia global, com o aumento do transporte de mercadorias e viagens, facilitou a introdução de espécies exóticas a longas distâncias e além das fronteiras naturais. Os efeitos negativos dessas espécies sobre a biodiversidade podem ser intensificados pelas mudanças climáticas, destruição de habitats e poluição.

As EEI contribuíram para quase 40% de todas as extinções de animais desde o século 17, em que a causa é conhecida. Enquanto isso, estima-se que as perdas ambientais causadas por pragas introduzidas na Austrália, Brasil, Índia, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos cheguem a mais de US$ 100 bilhões por ano.

As EEI são uma questão global que requer cooperação e ação internacional. Impedir a circulação internacional dessas espécies e a rápida detecção nas fronteiras é menos dispendioso do que o controle e a erradicação.

Mudanças no uso da terra e do mar

 

Trees cut down in a forest
As florestas são cortadas e convertidas para outros usos, principalmente agrícolas. Foto: CIFOR/ Axel Fassio

O maior fator de perda de biodiversidade é a forma como as pessoas usam a terra e o mar. Isso inclui a conversão de coberturas do solo, como florestas, zonas úmidas e outros habitats naturais, para usos agrícolas e urbanos.

Desde 1990, cerca de 420 milhões de hectares de floresta foram perdidos através da conversão para outros usos da terra. A expansão agrícola continua sendo o principal motor do desmatamento, da degradação florestal e da perda de biodiversidade florestal.

O sistema alimentar global é o principal motor da perda de biodiversidade, com a agricultura sendo identificada como ameaça direta a mais de 85% das 28.000 espécies em risco de extinção.

A colheita de materiais, como minerais, do fundo do oceano e a construção de vilas e cidades também impactam o ambiente natural e a biodiversidade.

Reconsiderar a forma como as pessoas cultivam e consomem alimentos é uma forma de reduzir a pressão sobre os ecossistemas. Terras agrícolas degradadas e em desuso podem ser ideais para restauração, o que pode apoiar a proteção e a restauração de ecossistemas críticos, como florestas, turfeiras e áreas úmidas.

Mudança climática

Penguins in the Polar region
Animais e aves da região polar estão perdendo seu habitat devido ao aquecimento global.Foto:UNEP/Olle Nordell

Desde 1980, as emissões de gases de efeito estufa dobraram, elevando a temperatura média global em pelo menos 0,7 graus Celsius. O aquecimento global já está afetando espécies e ecossistemas em todo o mundo, particularmente os ecossistemas mais vulneráveis, como recifes de coral, montanhas e ecossistemas polares. Há indícios de que o aumento da temperatura induzido pelas mudanças climáticas pode ameaçar até uma em cada seis espécies em nível global.

Ecossistemas como florestas, turfeiras e zonas úmidas representam reservas de carbono globalmente significativas. A sua conservação, restauração e sustentabilidade são fundamentais para alcançar as metas do Acordo de Paris. Ao trabalhar com a natureza, as emissões podem ser reduzidas em  até 11,7 gigatoneladas de equivalente de dióxido de carbono por ano até 2030, mais de 40% do necessário para limitar o aquecimento global.

Poluição

Man spraying pesticides on crop
Uso persistente de produtos químicos perigosos que representam ameaça para as plantas e insetos. Foto: Unsplash/ Arjun MJ

A poluição, incluindo a advinda de produtos químicos e resíduos, é um dos principais motores das mudanças na biodiversidade e nos ecossistemas, com efeitos diretos especialmente devastadores nos habitats de água doce e marinhos. As populações de plantas e insetos estão diminuindo como resultado do uso persistente de inseticidas altamente perigosos e não seletivos.

A poluição plástica marinha aumentou dez vezes desde 1980, afetando pelo menos 267 espécies animais, incluindo 86% das tartarugas marinhas, 44% das aves marinhas e 43% dos mamíferos marinhos. A poluição do ar  e  do solo também está aumentando.

Globalmente, a deposição de nitrogênio na atmosfera é uma das mais sérias ameaças à integridade da biodiversidade global. Quando o nitrogênio é depositado nos ecossistemas terrestres, uma cascata de efeitos pode ocorrer, muitas vezes resultando em declínios gerais da biodiversidade.

A redução da poluição do ar e da água e a gestão segura de produtos químicos e resíduos são cruciais para enfrentar a crise da natureza.

 

Exploração direta de recursos naturais

Unsustainable logging greatly contributes to deforestation
O corte de árvores pode resultar na perda de habitat para espécies vegetais e animais. Foto: Pixabay/ Reijo Telaranta

O recente relatório da IPBES sobre o uso sustentável de espécies selvagens revela que o  uso insustentável de plantas e animais não está apenas ameaçando a sobrevivência de um milhão de espécies em todo o mundo, mas também os meios de subsistência de bilhões de pessoas que dependem de espécies selvagens para alimentação, abastecimento e renda.

Segundo os cientistas, travar e inverter a degradação das terras e dos oceanos pode evitar a perda de um milhão de espécies ameaçadas. Além disso, restaurar apenas 15% dos ecossistemas em áreas prioritárias já ajuda a melhorar os habitats, reduzindo as extinções em 60%.

Espera-se que as negociações na COP15 se concentrem na proteção de plantas, animais e micróbios cujo material genético é a base para medicamentos e outros produtos que salvam vidas. Essa questão é conhecida como acesso e repartição de benefícios regidos por um acordo internacional - o Protocolo de Nagoya.

Os delegados da COP15 analisarão como as comunidades marginalizadas, incluindo os Povos Indígenas, podem se beneficiar de uma economia de subsistência – um sistema baseado no fornecimento e regulação de serviços de ecossistemas para necessidades básicas. Através de sua conexão espiritual com a terra, os povos indígenas desempenham um papel vital de proteção como guardiões da biodiversidade.

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    Esta é uma versão atualizada de uma matéria publicada pela primeira vez em dezembro de 2022.

    O Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal

    O planeta está experimentando um perigoso declínio na natureza. Um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, os solos estão se tornando inférteis e as fontes de água estão secando. O Marco Global da Biodiversidade – adotado pelos líderes mundiais em dezembro de 2022 – estabelece como objetivo deter e reverter a perda da natureza até 2030. Para enfrentar os catalisadores da crise da natureza, o PNUMA está trabalhando com parceiros para: agir em paisagens terrestres e marítimas, transformar nossos sistemas alimentares e fechar a lacuna financeira para a natureza.