Photo: Reuters Connect
15 Nov 2021 Reportagem Climate Action

COP26 termina em acordo, mas deixa a desejar na ação climática

Photo: Reuters Connect

Foi, afinal, um acordo de compromisso.

O Pacto Climático de Glasgow chegou a um acordo durante a COP26 neste sábado com o compromisso global de acelerar a ação climática nesta década. No entanto, o veredito deixa muitas dúvidas quanto a eficiência desse compromisso em manter o limite de aumento de temperatura em 1,5º C, em comparação aos níveis pré-industriais.

"É um passo importante, mas não é o suficiente. Nosso frágil planeta está por um fio. Ainda estamos à beira da catástrofe climática. É hora de entrarmos em estado de emergência – senão a nossa chance zerar emissões líquidas se tornará, de fato, zero", disse o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, ao concluir sua fala na conferência.

Há também o medo, particularmente das comunidades indígenas e da sociedade civil, de que esse acordo, que convida 197 países a relatar seus progressos para uma maior ambição climática na COP27 no Egito, seja insuficiente e tardio demais. "Estamos nos afogando em promessas. Somente a ação imediata e drástica nos afastará do abismo", disse a ativista pelo clima ugandense, Vanessa Nakate, aos líderes da Cúpula.

No entanto, apesar dessas preocupações, certamente alguns avanços foram feitos. Criou-se um roteiro para que Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês) fossem atualizadas – elas estão longe de manter o aumento da temperatura em 1,5°C, segundo uma análise do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

A palavra "carvão" foi usada em um texto da COP pela primeira vez, embora acompanhada da expressão "eliminação gradual", no lugar de "eliminação total", o que gerou decepções no público. Ainda, o termo revelou o compromisso com a eliminação gradual de subsídios destinados a combustíveis fósseis ineficientes.

Além das negociações políticas, a Conferência também reuniu cerca de 50.000 participantes on-line e presencialmente para o compartilhamento de ideias e soluções inovadoras, além da formação de parcerias.

Estas são algumas das principais conquistas da COP26:

Refrigeração que não prejudique o clima

PA Coal Power Plant - steam network
Foto: Unsplash/Martin Adams

A Coligação para a Refrigeração (Cool Coalition, em inglês) liderada pelo PNUMA anunciou uma série de etapas para reduzir o impacto climático da indústria de refrigeração, incluindo um incentivo de £12 milhões por parte do governo britânico. Algumas pesquisas do Programa indicam que o aquecimento global até 1,5 °C, um limite que o mundo tende a exceder consideravelmente, poderia deixar 2,3 bilhões de pessoas vulneráveis a ondas de calor. O arrefecimento se tornará essencial para proteger a saúde humana e a produtividade.

Redução do metano

Flames coming out from a tall gas pipe maintenance on gas distribution site
Foto: Shutterstock

Com o apoio da União Europeia, o PNUMA lançou o Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO) para impulsionar ações de redução da emissão desse gás que é um poderoso contribuinte para o efeito estufa e responsável por pelo menos um quarto do aquecimento do clima atual. O Observatório auxiliará no monitoramento dos compromissos assumidos pelos agentes estatais no Compromisso Global do Metano — um empenho entre os EUA e a UE para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030.

Apelo por mais ambição

Chimneys releasing emissions
Foto: PNUMA

O Relatório sobre a Lacuna de Emissões de 2021 do PNUMA: O Aquecedor está Ligado, lançado durante as preparações para a COP26, revela que a estimativa das NDCs indicam que o mundo caminha em direção a um aumento em 2,7°C na temperatura global até o final do século. As propostas de novos compromissos e atualizações feitas pelos 120 países desde 30 de setembro de 2021 reduzem apenas 7,5% das emissões previstas para 2030, enquanto o necessário seria de 55% para que o limite de 1,5º C seja respeitado. Os esforços para zerar as emissões líquidas podem reduzir em 0,5°C esses 2,7°C.

Da mesma forma, o Relatório sobre a Lacuna de Adaptações de 2021 do PNUMA: Tempestade que se Aproxima clama por esforços urgentes para aumentar o financiamento e a implementação de ações necessárias no enfrentamento aos impactos crescentes da mudança do clima. O relatório conclui que, embora as políticas públicas e o planejamento para a adaptação às mudanças do clima estejam crescendo, o financiamento e a implementação dessas ainda estão muito longe do necessário.

"Enquanto o mundo tenta intensificar esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa – que ainda é um empenho insuficiente – também é preciso que as estratégias de adaptação às mudanças do clima avancem rapidamente", disse Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA. 

Impulso de soluções baseadas na natureza

A lake in the forest
Foto: Pixabay

O Ministério do Meio Ambiente da Alemanha anunciou que destinaria mais 10 milhões de euros ao Fundo Global EbA, um mecanismo de financiamento pioneiro implementado pela União Internacional para a Conservação da Natureza e pelo PNUMA para apoiar soluções baseadas na natureza na adaptação às mudanças do clima. Apesar do custo-benefício das adaptações baseadas em ecossistemas como estratégia de mitigação da mudança do clima, somente 5% do financiamento climático global é gasto com essas soluções, mesmo com o alerta do Secretário Geral da ONU, António Guterres, para que 50% desse financiamento seja destinado a essa finalidade.

Compromisso de universidades a zerar emissões líquidas

Solar panels and wind turbines
Foto: Pixabay

Uma série de compromissos foi firmada por mais de mil universidades provenientes de 68 países para zerar as emissões líquidas até 2050 e realizar mudanças na forma como afetam a natureza, incluindo por meio de uma iniciativa para a geração de impactos positivos ao meio ambiente. Nos últimos 12 meses, instituições acadêmicas de todo o mundo aderiram à campanha Corrida Para Zerar as Emissões Líquidas (Race to Zero, em inglês), comprometendo-se a meta de zero emissões líquidas de carbono até, no máximo, 2050. A iniciativa vem sendo liderada pelas organizações Environmental Association for Universities and Colleges e Second Nature com apoio do PNUMA.

Fim do desmatamento, proteção das turfeiras  

Peatland
Foto: Unsplash/Xiaoyong Chen

Mais de 100 líderes mundiais – de países que abrangem 85% das florestas do mundo – prometeram acabar com o desmatamento até 2030 e garantiram investir 19,2 bilhões de dólares para esse fim. Mais de 30 empresas também se comprometeram a cessar os investimentos em atividades ligadas ao desmatamento. Outras garantias incluem também uma maior cooperação entre nações que possuem grandes turfeiras, outro armazém de carbono fundamental, além do lançamento do primeiro mapa-base de turfeiras globais. Diversos países, incluindo a Alemanha e a Inglaterra, também se comprometeram a publicar estratégias abrangentes para a proteção desse ecossistema.

O PNUMA lidera o cumprimento do objetivo do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2 °C, dando preferência, por segurança, a um limite de 1,5 °C, em comparação aos níveis pré-industriais.  Para isso, o PNUMA desenvolveu uma Solução de Seis Setores. A Solução de Seis Setores é um roteiro para reduzir as emissões em todos os setores, em conformidade com os compromissos do Acordo de Paris e na busca pela estabilidade climática. Os seis setores identificados são Energia; Indústria; Agricultura e Alimentos; Florestas e Uso da Terra; Transporte, e Edifícios e Cidades.