03 Mar 2020 Reportagem Climate Action

Mudanças climáticas podem causar inundações extremas

Recentemente, uma série de tempestades em alguns locais do Reino Unido provocou inundações intensas, acumulando em 48 horas quantidade de água equivalente a um mês de chuva. Grande parte da Inglaterra recebeu chuvas acima da média em outubro de 2019, o que saturou as bacias hidrográficas da região. 

Mudanças climáticas e inundações — como elas se conectam 

Alguns fatores aumentam o risco de inundações, como as mudanças climáticas e os padrões meteorológicos mais extremos causados por elas a longo prazo e as alterações na cobertura dos solos — como a remoção de vegetação. 

Inundações extremas podem ser desencadeadas por chuvas muito fortes, de longa duração, muito frequentes ou pela combinação desses três fatores. No caso de precipitações intensas, como ocorrido no Reino Unido, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em uma avaliação abrangente sobre a mudança do clima, constatou que é provável que essa seja uma tendência crescente na Europa, especialmente para o inverno. 

“Embora seja difícil estabelecer um vínculo direto entre um único evento extremo e a mudança climática, está claro que precisamos estar preparados para enfrentar com mais frequência outros episódios hidrometeorológicos extremos devido às mudanças climáticas”, diz Pascal Peduzzi, Diretor do Banco de Dados de Informações Globais de Recursos do PNUMA em Genebra. 

O aumento da temperatura global indica mais chuvas 

Com temperaturas mais altas, teremos mais energia no sistema terrestre. Um aumento no nível do mar e na temperatura do ar pode intensificar a evaporação, o que, consequentemente, pode favorecer a formação de nuvens. No calor, o ar pode reter mais umidade, o que pode levar a um aumento na intensidade, duração e frequência das precipitações. 

As temperaturas aumentam mais rapidamente em latitudes mais distantes da linha do equador. Essa situação pode resultar em um menor gradiente de temperatura entre a latitude média no equador e a polar, o que pode afetar as correntes de vento. Para a região do Atlântico Norte, a pesquisa aponta a possibilidade de ocorrer eventos hidrometeorológicos extremos com mais frequência, como fortes tempestades no inverno ou secas prolongadas no verão. 

As temperaturas  estão aumentando

A média da temperatura global está agora 1,1ºC superior ao início do século passado e a média da temperatura global em janeiro foi a mais alta já registrada em toda a história. A Sala Mundial de Situação Ambiental do PNUMA nos dá informações atualizadas regularmente sobre anomalias na temperatura globalNesse gráfico podemos ver que janeiro de 2020 foi o mês mais quente desde o início dos registros, subindo para 1,19ºC acima dos níveis pré-industriais. 

O que podemos esperar? 

As inundações extremas continuarão concentradas principalmente em regiões onde há construções em planícies aluviais ou zonas costeiras baixas. Contudo, à medida que o aquecimento global estimula a ocorrência de eventos climáticos mais extremos, os riscos ultrapassam as áreas de alto risco. Sérias inundações devem ser esperadas e, nas cidades onde elas já ocorrem, não serão mais tão esporádicas, mas muito mais frequentes. 

A realidade é que este é o mundo em que vivemos com 1,1ºC de aquecimento. Essas temperaturas e inundações recordes não são anormais, mas sim o início de um novo ciclo, e podemos esperar novos registros ano após ano. 

Como serão as coisas daqui a algumas décadas, quando atingirmos 1,5ºC? À medida que as comunidades afetadas se recuperam dos efeitos das inundações e calculam o custo dos pertences, casas e negócios perdidos, enquanto vivem com a persistente umidade e com o medo de outras tempestades acontecerem, parece que muito precisa ser feito para nos prepararmos para enfrentar essa futura realidade. 

Conforme o clima muda em ritmo crescente, todos — entidades governamentais de todos os níveis, empresas, indivíduos e a sociedade civil — precisam estar preparados para enfrentar episódios climáticos mais extremos. A ciência climática deve ser levada em consideração para orientar a construção, adaptação e proteção de nossas casas, comunidades, negócios e infraestrutura. Mais urgentemente, a emissão de gases de efeito estufa deve ser reduzida, para que o aumento da temperatura global possa ser controlado enquanto ainda é possível. Soluções climáticas baseadas na natureza, como reflorestamento e restauração de terras degradadas, devem ser consideradas, pois podem reduzir os impactos de eventos climáticos extremos e absorver CO2. 

2020 é o ano em que os governos se reunirão para fazer um balanço e reforçar seus compromissos com a ação climática. Esse é o ano em que as emissões globais devem cair em 7,6% — e mais 7,6% a cada ano subsequente até 2030 —, a fim de limitarmos o aumento da temperatura global a 1,5ºC, conforme explica o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2019 do PNUMA. 

Governos, empresas, indústrias e cidadãos dos países que compõem o G20, que são responsáveis ​​por 78% das emissões de gases de efeito estufa, devem estabelecer metas e prazos para a descarbonização. Devemos abraçar as vastas oportunidades sociais, econômicas e políticas que virão com a transição para um mundo alimentado por energia renovável e pela implantação de diversas soluções neutras em carbono. 

Essas inundações dão ao Reino Unido uma melhor percepção sobre a crescente ameaça da mudança climática no ano em que o país sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

 

Para imprensa, por favor entre em contato: 

Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, PNUMA, roberta.zandonai@un.org