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19 Feb 2021 Reportagem Economia verde

Na indústria têxtil, o antigo está se tornando cada vez mais novo

Uma marca de sapatos e acessórios nas Filipinas que usa retalhos para fazer seus produtos. Uma startup de tecnologia na Irlanda que permite estranhos trocarem suas roupas pouco usadas. E uma marca de vestuário no Brasil que produz sem gerar resíduos (zero waste), ressignificando roupas antigas em novas peças.

Estas são apenas três de um número crescente de empresas que estão contrariando uma tendência destrutiva do meio ambiente em direção ao fast fashion.

Observadores da indústria têxtil dizem que há muito tempo está preparada para uma transformação em direção a circularidade.

Em meio a uma demanda voraz por roupas baratas e na tendência, ela se tornou um grande motor da mudança climática: algumas fontes dizem que o setor têxtil é responsável por cerca de 8% das emissões de gases de efeito estufa do mundo. Produzir um quilograma de têxteis também utiliza mais de meio quilo de produtos químicos e consome enormes quantidades de água doce.

"A indústria da moda tem sido criticada há muito tempo pelo impacto que tem sobre o meio ambiente", disse Elisa Tonda, Chefe da Unidade de Consumo e Produção do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). "Grande parte dessas críticas é justificada. Mas, ao mesmo tempo, há muita inovação acontecendo neste momento que é um bom presságio para o futuro".

Tonda fez os comentários antes da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-5), onde algumas discussões se concentraram no que é conhecido como economia circular, que preza pela reutilização das coisas - desde garrafas de bebidas até camisolas - em vez de jogá-las fora.

A UNEA também verá o lançamento de uma Aliança Global sobre Economia Circular e Eficiência de Recursos, estabelecida pelo PNUMA, a Comissão Europeia e a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO). A aliança se baseia em iniciativas regionais existentes (como a Aliança Africana de Economia Circular) para acelerar a transição para uma economia circular global através de uma utilização mais eficiente e equitativa dos recursos. Ela também promove o consumo sustentável, a produção e a industrialização.

Um bom momento para a mudança

A recuperação econômica da COVID-19 oferece uma rara oportunidade para mudar drasticamente a trajetória de muitas indústrias, incluindo a têxtil.

"Vincular pacotes de estímulo financeiro a ações alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e com o Acordo de Paris irá alcançar a eficiência dos recursos a longo prazo e dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental", disse Archana Datta, coordenadora de projetos para a Índia, na iniciativa SWITCH-Asia, que promove a produção e o consumo sustentáveis.

A circularidade e a sustentabilidade também fazem sentido economicamente para as empresas, sugerem os dados. Mesmo antes do Covid-19, apenas 60% do vestuário era vendido a preço total, criando bilhões de dólares de receitas perdidas. O design inteligente do produto tem o potencial de eliminar o desperdício de produção e reduzir a poluição durante toda a fase de processamento, ajudando as empresas a economizar dinheiro.

A circularidade também seria boa para o clima. Mudar para mais modelos comerciais circulares, incluindo aluguel de roupas, comercio reverso, reparos e reformas, poderia ajudar a indústria a reduzir cerca de 143 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa em 2030.

Uma recuperação verde

Um estudo do PNUMA descobriu recentemente que, para tornar a indústria da moda mais sustentável, é necessário uma "governança" mais forte do setor, mais financiamento para inovações favoráveis ao planeta e um esforço concertado para mudar os hábitos de consumo dos consumidores.

Várias iniciativas promissoras já estão ajudando. Através de um aplicativo para smartphone, o Nuw, baseado na Irlanda, permite que os usuários troquem roupas raramente usadas em vez de jogá-las fora. Nas Filipinas, a empresa de vestuário Phinix coleta os resíduos têxteis e os transforma em calçados e bolsas. Seus produtos têm apenas 10% da pegada de carbono das roupas comuns. Por fim, ao fazer reciclagem e evitar embalagens plásticas, entre outras coisas, a empresa de vestuário brasileira, Refazenda, eliminou seus resíduos sólidos.

O PNUMA está criando um guia para ajudar outras empresas têxteis a seguir a liderança desses negócios. Previsto para ser lançado em junho de 2021, ele mostrará ações concretas que as empresas têxteis podem adotar para tornar seus negócios mais ecológicos.

 

A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA) é o órgão decisório de mais alto nível no mundo sobre o meio ambiente. Ela reúne representantes dos 193 Estados Membros da ONU, empresas, líderes da sociedade civil e outras partes interessadas para chegar a um acordo sobre políticas que combaterão a mudança climática, a poluição e a perda da biodiversidade.

A quinta sessão da UNEA (UNEA-5) será realizada on-line em 22-23 de fevereiro de 2021, seguida de uma reunião presencial em Nairobi, em fevereiro de 2022. O tema é "Fortalecer Ações pela Natureza para Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável", enfatizando o papel central que a natureza desempenha para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Ele também destaca como uma recuperação de baixo carbono pós COVID-19 pode acelerar o desenvolvimento sustentável.

 

 

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