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28 Sep 2022 Reportagem Cidades

O que você precisa saber sobre o combate à perda e ao desperdício de alimentos

Enquanto o mundo busca maneiras de combater a crise climática, especialistas estão se voltando para os sistemas alimentares em busca de soluções. Uma pesquisa do IPCC mostra que a perda e o desperdício de alimentos são responsáveis por surpreendentes 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Então, de onde vem essa perda de alimentos?

"A perda e o desperdício de alimentos ocorrem em todos os estágios da cadeia de suprimentos, mas estão concentrados na fazenda e em casa", diz Clementine O'Connor, especialista em sistemas alimentares do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). "O meio da cadeia de suprimentos gera volumes comparativamente pequenos de desperdício de alimentos, mas tem uma influência estrondosa sobre como os alimentos são cultivados, comprados e comidos."

Os comentários de O'Connor foram feitos pouco antes do Dia Internacional de Conscientização sobre Perda Desperdício de Alimentos, que cai em 29 de setembro. O dia foi criado para pressionar governos, empresas e consumidores a resolverem uma das principais deficiências dos sistemas alimentares mundiais, a qual o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, disse estar "colocando pressão histórica sobre nossos recursos naturais, clima e meio ambiente natural".

Reforma dos sistemas alimentares

O Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2021 do PNUMA revelou que cerca de 931 milhões de toneladas de resíduos alimentares foram geradas em 2019, 61% das quais vieram de residências, 26% de serviços alimentares e 13% do varejo.

Especialistas dizem que existem algumas maneiras simples de conter essas perdas.

Os consumidores podem ajudar a reduzir a quantidade de alimentos perdidos no transporte comprando produtos cultivados localmente, inclusive em feiras de agricultores. Apoiar as fazendas locais também promove a segurança alimentar e pode ajudar os pequenos agricultores a se adaptarem às mudanças climáticas, diz O'Connor.

Cultivar seus próprios alimentos pode ajudá-lo a desfrutar de produtos no pico de maturação, mas mudanças sistêmicas, em nível de país e cidade, são necessárias para reduzir drasticamente o desperdício de alimentos, acrescentou O'Connor.

Soluções urbanas

Cerca de 70% do consumo de alimentos ocorre em nível urbano. Especialistas dizem que os governos municipais podem ajudar a criar sistemas alimentares circulares ao aumentar a conscientização sobre a perda de alimentos, promover a agricultura urbana, fornecer serviços gratuitos de reciclagem de resíduos alimentares e banir o lixo orgânico dos aterros sanitários.

Com os preços dos alimentos 34% mais altos do que nesta mesma época do ano passado, os consumidores também têm um poderoso incentivo para reduzir o desperdício de alimentos. Porém, uma nova pesquisa da Unilever e da organização não-governamental Wrap mostra que o desperdício de alimentos custa às famílias com crianças 780 libras esterlinas por ano no Reino Unido e 1.900 dólares por ano nos Estados Unidos. "Além de reduzir o uso de energia e de água e repensar o transporte, reduzir o desperdício de alimentos é uma maneira importante de reduzirmos nossos custos", diz O'Connor.

Estima-se que 3,1 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm uma dieta saudável, e cerca de 828 milhões de pessoas passam fome. Desde 2019, o número de pessoas passando fome em decorrência da pandemia aumentou em mais de 100 milhões. Tudo isso significa que há uma necessidade urgente de acelerar as ações para reduzir a perda e o desperdício de alimentos.

Sinais de esperança

A boa notícia é que está sendo feito progresso. O Compromisso Courtauld apoiou uma redução de 27% no desperdício de alimentos, desde 2007, no Reino Unido. Parcerias semelhantes estão avançando rapidamente no México, na África do Sul, na Indonésia, na Austrália e em partes dos Estados Unidos.

Para aqueles que querem fazer a diferença, diz O'Connor, a transformação pode acontecer na mesa de jantar. "Coma as suas sobras. Compre e cozinhe a quantidade certa – pequenas lojas podem ajudar na compra de quantidades mais precisas e usar xícaras medidoras pode ajudar a acertar o tamanho das porções."

Outras medidas práticas incluem programar um dia para cozinhar as coisas que estão escondidas na geladeira antes de reabastecer e compartilhar o excesso de comida com amigos e vizinhos, especialmente antes de sair para uma viagem. Ou cultivar frutas e legumes, conservar o excedente, fazer compostagem de restos não comestíveis e perguntar aos governos locais sobre coletas seletivas de resíduos alimentares.

Mudanças na dieta também podem ajudar, diz O'Connor. "Comer uma grande variedade de plantas é bom para a sua saúde e para o planeta - trinta tipos diferentes por semana é o meu objetivo atual."

Em dezembro, o mundo se reunirá para a Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP15), em Montreal, para fechar um acordo histórico para orientar as ações globais sobre biodiversidade até 2030.

As negociações oferecem uma oportunidade única de transformar a agricultura e os sistemas alimentares para beneficiar as pessoas e o planeta por meio do uso sustentável e da conservação da natureza.

Para mais informações sobre perda e desperdício de alimentos, entre em contato com Clementine O'Connor: clementine.oconnor@un.org

 

Sobre o Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos

O Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos, celebrado pela terceira vez em 29 de setembro de 2023, fará um apelo claro à ação para que entidades públicas e privadas, de todo o sistema alimentar, e consumidores, trabalhem juntos para reduzir a perda e o desperdício de alimentos para melhorar o uso eficiente dos recursos naturais, mitigar as mudanças climáticas, e apoiar a segurança alimentar e nutricional.