Photo: FAO/Cristina Aldehuela
17 Oct 2022 Reportagem Nature Action

Vazamento de plásticos em campos agrícolas em ritmo alarmante - novo relatório

Photo: FAO/Cristina Aldehuela

De acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), plásticos vêm se acumulando nos solos do mundo a um ritmo preocupante.

A 29ª edição do Foresight Brief do PNUMA destaca como materiais plásticos usados extensivamente na agricultura - desde fertilizantes com revestimento plástico até filme de cobertura vegetal - contaminam o solo e ameaçam potencialmente a segurança alimentar. Os microplásticos também estão impactando a saúde humana quando transferidos para as pessoas através da cadeia alimentar.

"Há uma quantidade finita de terras agrícolas disponíveis", diz a professora Elaine Baker da Universidade de Sydney, coautora do relatório. "Estamos começando a entender que o acúmulo de plástico pode ter um amplo impacto sobre a saúde do solo, a biodiversidade e a produtividade, todos vitais para a segurança alimentar", diz ela.

Os plásticos estão em todo o lugar na agricultura. Os macroplásticos são utilizados como revestimentos protetores de coberturas e forragens. Eles cobrem estufas e protegem as culturas dos elementos. São utilizados em tubos, sacos e garrafas de irrigação – inclusive com a adição intencional de microplásticos como revestimento de fertilizantes, pesticidas e sementes.

Ao longo do tempo, os macroplásticos se decompõem lentamente em microplásticos - com fragmentos menores do que 5 mm de comprimento - e se infiltram no solo. Esses microplásticos podem alterar a estrutura física da terra e limitar sua capacidade de retenção de água, o que pode afetar as plantas, reduzindo o crescimento das raízes e a absorção de nutrientes. Aditivos químicos presentes nos plásticos podem se infiltrar no solo , afetar as cadeias de valor dos alimentos e acarretar em riscos para a saúde.

Nenhuma dessas soluções é mágica. O plástico é barato e fácil de trabalhar, o que torna a tentativa de introduzir alternativas difícil.

Elaine Baker, Universidade de Sydney

De acordo com o Foresight Brief, a maior fonte de poluição microplástica no solo são os fertilizantes produzidos a partir de matéria orgânica, como o lodo proveniente do tratamento de efluentes. Conhecidos como biossólidos, estes podem ser mais baratos e melhores para o meio ambiente do que os fertilizantes fabricados. Mas o lodo vem misturado com microesferas, minúsculas partículas sintéticas comumente usadas em sabonetes, xampus, maquiagem e outros produtos de higiene pessoal, o que é motivo de preocupação.

Alguns países proibiram as microesferas de plástico, mas muitos outros microplásticos continuam a entrar no sistema de tratamento da água. Estes incluem tudo, desde filtros de cigarro a componentes de pneus e fibras sintéticas de roupas. Especialistas dizem que o tamanho e a composição variáveis dos microplásticos torna difícil sua remoção, uma vez que estão em esgoto.

Avanços estão sendo feitos para melhorar a biodegradabilidade dos polímeros utilizados em produtos agrícolas. Alguns filmes de cobertura vegetal - utilizados para modificar a temperatura do solo, limitar o crescimento de ervas daninhas e evitar a perda de umidade - estão sendo comercializados agora como totalmente biodegradáveis e compostáveis, o que nem sempre é o caso.

Para reduzir a dependência de polímeros à base de hidrocarbonetos, o uso de polímeros de base biológica está se expandindo. Mas nem todos são biodegradáveis - alguns podem ser tão tóxicos quanto os polímeros à base de combustíveis fósseis - e seu preço ainda é um problema. Especialistas dizem que a produção de polímeros de base biológica não deve gerar concorrência territorial com a produção de alimentos, e o aumento em sua utilização deve levar em consideração o respeito à agricultura sustentável.

As chamadas culturas de cobertura, que protegem o solo e não são destinadas à colheita, também podem ser utilizadas. Essas soluções baseadas na natureza podem suprimir ervas daninhas, combater doenças do solo e melhorar sua fertilidade, mas há preocupações que podem reduzir o rendimento e aumentar os custos.

"Nenhuma dessas soluções é mágica", diz Baker. "O plástico é barato e fácil de trabalhar, o que torna difícil a tentativa de introduzir alternativas ".

Ela disse que os governos precisam "desestimular" o uso de plásticos agrícolas, seguindo o exemplo da União Europeia, que no início deste ano restringiu certos tipos de polímeros a serem usados em fertilizantes.

Baker disse que mais pesquisa precisa ser feita para desenvolver produtos - como alguns têxteis alternativos - que não soltem microplásticos. Incentivar os consumidores a repensar seu consumo de plástico e os fabricantes a reduzir a quantidade de plástico que utilizam também é essencial, disse ela.

"Embora ainda haja apenas uma pesquisa limitada sobre os impactos dos plásticos no solo, há evidências de efeitos negativos na saúde e produtividade do solo", diz ela. "Agora é o momento de adotar o princípio da precaução e desenvolver soluções direcionadas para interromper o fluxo de plástico para o meio ambiente".

 

Sobre os Foresight Briefs

Os Foresight Briefs são publicados pelo PNUMA para destacar um ponto focal da mudança ambiental, apresentar um tema científico emergente ou discutir uma questão ambiental contemporânea. A 29ª edição do Foresight Brief do PNUMA explora o uso do plástico na agricultura e o significativo problema de resíduos que isso implica, afetando a saúde do solo, a biodiversidade, a produtividade e a segurança alimentar.