UNEP / Shawn Heinrichs
15 Dec 2021 Reportagem Ocean & Coasts

Abordagem da fonte ao mar pode conter a ameaça da poluição plástica

UNEP / Shawn Heinrichs

O oceano é o lar dos recifes de coral, da maior cordilheira do mundo, das fossas oceânicas e de mais de 220.000 espécies conhecidas. Por outro lado, é também onde se encontram cerca de 75 a 199 milhões de toneladas de poluição plástica.

Até 2040, caso não haja medidas urgentes, é possível que a poluição plástica que flui para o oceano aumente 11 milhões de toneladas por ano, atingindo 37 milhões de toneladas.

Em outubro de 2021, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou os relatórios Da Poluição à Solução e Afogando-se em Plástico. Ambos sublinham a necessidade urgente de se solucionar a grave ameaça do lixo marinho e da poluição plástica.

O problema destacado por essas publicações é evidente: o lixo marinho e a poluição plástica ameaçam a humanidade, a vida selvagem e a saúde de ecossistemas. O descarte inadequado de lixo, a falta de gestão de fluxos de resíduos e os eventos extremos como inundações, que vêm aumentado devido à mudança climática, são fatores que provocam o crescimento da quantidade de lixo plástico que acaba no oceano. Essa situação também implica consequências econômicas, uma vez que, antes da pandemia de COVID-19, o oceano rendia US$ 2,5 milhões em bens e serviços por ano e contribuía diretamente para a geração de 31 milhões de empregos efetivos.

O plano de trabalho do PNUMA enfrenta esse problema de poluição desde a fonte até a chegada ao mar, abrangendo todos os sistemas — terrestres, de água doce, fluviais e estuarinos, os costeiros e de mar aberto. Além disso, também analisa a projeção, a produção e os estágios de consumo da gestão de resíduos.

A stack of plastic bottles and other litter floats on an algae-filled river bank
Como os rios são um caminho comum para a entrada de plásticos no oceano, a identificação de pontos ativos onde isso mais acontece pode fomentar políticas mais fortes. Foto: Pixabay / Rafael Neddermeyer

Mares Limpos 2.0.: Da Fonte ao Mar

Por meio da campanha Mares Limpos, o PNUMA sensibiliza as pessoas e impulsiona ações políticas e legislativas sobre a questão do lixo marinho e da poluição plástica. Lançada em 2017, a campanha engaja governos, público geral, sociedade civil e setor privado no fortalecimento de planos de ação efetivos para o enfrentamento dessas questões. Atualmente, 63 países são signatários.

Com a chegada de seu quinto aniversário em fevereiro, a campanha está lançando a Mares Limpos 2.0.: Da Fonte ao Mar. Partindo do foco inicial da campanha sobre plásticos de uso único e como eliminá-los. A versão 2.0 tem como alvo a comunicação das causas primordiais associadas à produção, uso e descarte de plásticos desnecessários, evitáveis e problemáticos. Os temas contemplam uma gama de produtos, incluindo embalagens, equipamentos de pesca fantasma, pneus e materiais têxteis.

A partir dessa perspectiva, a Mares Limpos adota uma abordagem com base em evidências para identificar as principais fontes, caminhos e riscos da poluição, de modo a estimular um impulso global de urgência e ação.

Dos 11 milhões de toneladas de poluição plástica que entram no mar a cada ano, 2,7 milhões vêm de rios. O roteiro da Mares Limpos 2.0 enfatiza a abordagem da fonte ao mar, com dois projetos-chave do PNUMA voltados para rios: o CounterMEASURE e a Iniciativa contra a Poluição Plástica do Rio Mississippi.

Ações do PNUMA da fonte ao mar

O projeto CounterMEASURE, implementado pelo PNUMA, utiliza tecnologia de ponta para identificar a fonte da poluição plástica em sistemas fluviais na Ásia — primeiramente nos rios Ganges e Mekong. A partir de uma combinação entre ciência cidadã, geração de imagens por drone, aprendizagem de máquinas e análises geográficas, o projeto coleta dados e identifica pontos ativos de concentração de resíduos plásticos. Esses dados são compartilhados com organizações e governos parceiros em toda a região, que integram os resultados em campanhas, propostas legislativas, protocolos e capacitação para funcionários públicos e autoridades locais.

“Embora muitas pesquisas tenham sido realizadas sobre detritos plásticos no oceano, pouco se sabe sobre a poluição plástica em rios, especialmente na Ásia. Ao reunir essas informações e fornecê-las aos formuladores de políticas, estamos fundamentando estas a nível local, regional e global”, disse Norwin Schaffer, Coordenador de Projetos do Escritório Regional do PNUMA na Ásia e Pacífico.

A ciência cidadã é uma parte fundamental da Iniciativa contra a Poluição Plástica do Rio Mississippi, também liderada pelo PNUMA em parceria com a Iniciativa das Cidades e Municípios do Rio Mississippi. Os voluntários catalogaram mais de 100.000 itens de lixo ao longo do rio Mississippi, sendo a maioria de plástico. O rio, que fornece centenas de bilhões de galões de água para as principais indústrias e água potável para 20 milhões de pessoas, é também o sistema de drenagem para 40% dos Estados Unidos continental. Os resíduos plásticos deslocam-se por bueiros e pequenos cursos d'agua até os rios, por meios dos quais esses materiais chegam ao Golfo do México e, por fim, ao oceano.

“Esses dados talvez ajudem a chamar atenção para o acúmulo de resíduos plásticos em algumas áreas específicas. Esperamos que as partes interessadas — desde formuladores de políticas, empresas, até cidadãos — possam coletivamente usá-los para solucionar a crise de poluição plástica”, disse Barbara Hendrie, Diretora do Escritório Regional do PNUMA na América do Norte.

O PNUMA e a Fundação Ellen McArthur também lideram o Compromisso Global, que estabelece uma visão em comum para a economia circular de plásticos. Há 500 signatários — incluindo fabricantes de plástico, instituições financeiras e governos — que se comprometeram às metas ambiciosas de 2025 para alcançar a circularidade.

Por meio da Parceria Global sobre Lixo Marinho, o PNUMA tem desenvolvido uma plataforma digital para reunir e conectar atores e informações com o objetivo de estimular ações antes que a poluição plástica acabe no oceano.

“O lixo marinho e a poluição plástica são problemas que podem ser resolvidos com ações. Ao lidar com eles desde a fonte até o mar, o PNUMA encoraja uma maior ação do governo e compromisso da indústria em relação ao ciclo de vida do plástico, que é o necessário para a resolução desta situação”, afirma Letícia Carvalho, Diretora da Seção de Água Doce e Marinha.

O roteiro da campanha Mares Limpos 2.0 está em consonância com a Estratégia de Médio Prazo para 2022-2025 do PNUMA na adoção de descobertas científicas de ponta na coleta de dados e no empenho com parceiros globais e partes interessadas para o fortalecimento de ações efetivas para deter o lixo marinho e a poluição plástica.

O CounterMEASURE é administrado pelo Escritório Regional do PNUMA na Ásia e no Pacífico. O projeto recebe financiamento por meio do apoio do Governo do Japão.

A Iniciativa contra a Poluição Plástica do Rio Mississippi é coliderada pelo Escritório Regional do PNUMA na América do Norte.

Para mais informações, favor entrar em contato com Andrina Beaumond, Coordenadora da Mares Limpos, andrina.beaumond@un.org