10 Jan 2020 Reportagem Climate Action

Os “megaincêndios” são o novo normal?

Os enormes incêndios florestais na Austrália, na Amazônia, na Califórnia, na bacia do Congo e na Indonésia chamaram a atenção do mundo para os riscos de longos períodos de clima excepcionalmente quente e seco - um dos efeitos das mudanças climáticas.

A temperatura média global está agora 1,1°C mais alta do que no início do século passado. Temperaturas mais altas criam, em algumas partes do mundo, condições mais secas, aumentando a probabilidade e a intensidade de incêndios florestais e megaincêndios. Este gráfico, do Relatório Especial sobre Terra e Mudanças Climáticas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), ilustra como o risco de incêndio aumenta com o aquecimento global:

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A mudança do clima aumenta o risco de incêndios florestais. O aumento da temperatura média da superfície global (GMST), em relação aos níveis pré-industriais, afeta os incêndios florestais, resultando em riscos e impactos que aumentam de 'moderado' a 'muito alto' à medida que a temperatura global aumenta.
Fonte: Relatório Especial sobre Terra e Mudanças Climáticas do IPCC, ilustra
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Megaincêndios, são tipicamente definidos por cobrir mais de 40.000 hectares ou 400 quilômetros quadrados, e são acelerados pela combinação de secas e temperaturas altas. Eles são extremamente difíceis de conter, geralmente limitados apenas pela quantidade de vegetação disponível.

Até o final de 2019, o Brasil, a República Democrática do Congo, a Federação Russa e os Estados Unidos experimentaram megaincêndios em escalas sem precedentes.

Em 2019, o Global Forest Watch contabilizou mais de 4,5 milhões de incêndios em todo o mundo de mais de um quilômetro quadrado. São 400.000 incêndios a mais que 2018 e mais de duas vezes o número de incêndios de 2001. Quase todos - 96% dos 500 megaincêndios mais desastrosos da última década ocorreram durante períodos de clima excepcionalmente quente e/ou seco.

A Austrália enfrenta mais 10 semanas até o final de sua temporada de seca (dezembro a março) e esta temporada de incêndios florestais já está caminhando para ser uma das piores já registradas.

Relatórios da Austrália dizem que mais de 10 milhões de hectares (100.000 quilômetros quadrados, uma área do tamanho da Inglaterra) haviam queimado na segunda semana de janeiro, provocando mortes humanas e destruindo casas. É provável que um bilhão de animais tenha morrido direta ou indiretamente, com um alto preço para a economia australiana e com impactos para as indústrias da agricultura e do turismo, entre outras.

O aumento da temperatura global foi marcado por sucessivas ondas de calor no verão australiano. A temperatura máxima média em todo o continente ultrapassou  40°C em 11 dias do mês, superando o recorde anterior de sete dias, em 2018. Apenas quatro dias entre 1910 e 2017 atingiram uma média superior a 40°C - dois em 1972 e dois em 2013.

Os fenômenos climáticos de seca e de ondas de calor extremos, apenas aumentam o risco de mais incêndios catastróficos na Austrália.

"Os megaincêndios podem muito bem tornar-se o novo normal à medida que as temperaturas globais continuarem subindo", diz Niklas Hagelberg, Especialista em Mudanças Climáticas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

“Governos, empresas, indústria e a sociedade civil nos países do G20, responsáveis ​​por 78% das emissões de gases de efeito estufa, devem estabelecer metas e prazos para a descarbonização”, diz Hagelberg. "Precisamos abraçar o potencial e as oportunidades de um mundo alimentado por energia renovável, tecnologias de eficiência, sistemas alimentares inteligentes e transportes e edifícios com emissão zero".

A realidade é que este é o mundo em que vivemos com 1,1ºC de aquecimento. Essas temperaturas recordes, ondas de calor e secas não são anômalas, elas são o começo de uma nova norma.

Como serão as coisas daqui a algumas décadas quando atingirmos 1,5ºC? Nas comunidades já devastadas, as brasas permanecem acesas, ameaçando expandir. À medida que a assistência internacional foi urgentemente convocada para ajudar a Austrália, um país com bons recursos, acostumado a incêndios sazonais, parece que estamos lamentavelmente despreparados para enfrentar nossa realidade futura.

2020 é o ano em que os governos se reunirão para fazer um balanço e aumentar a ambição de seus compromissos com a ação climática. É o ano em que as emissões globais devem cair 7,6% e 7,6% novamente a cada ano subsequente até 2030, a fim de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC.

Esses incêndios ilustram o estado das catástrofes humanitárias, ecológicas e econômicas de um clima em mudança. O aquecimento é um sombrio acerto de contas, não apenas para a Austrália, mas para o mundo inteiro que assiste.

 

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Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, PNUMA, roberta.zandonai@un.org