Reuters / Yves Herman
07 Dec 2021 Reportagem Climate Action

Primeira-Ministra Mottley de Barbados lidera a luta contra a mudança climática

Reuters / Yves Herman

Quando a primeira-ministra de Barbados, Mia Amort Mottley, subiu ao palco na Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, ela não estava disposta a ser simpática.  Diante de lideranças mundiais, denunciou os “poucos anônimos” que estão levando o mundo para uma catástrofe climática e ameaçam o futuro dos pequenos Estados insulares, como o seu próprio. 

“Nosso mundo não sabe com o que está brincando, e se não controlarmos este incêndio, todos seremos queimados”, disse a primeira-ministra em setembro. Inspirando-se na letra de reggae do grande músico Bob Marley, ela acrescentou: “Who will get up and stand up for the rights of our people?” (“Quem se levantará e defenderá os direitos de nosso povo?”, na tradução literal).

discurso comovente foi manchete em todo mundo e, para muitos, foi uma apresentação de quem é Mia Mottley. Mas a primeira-ministra de Barbados e Campeã da Terra na categoria Liderança Política esteve há anos se dedicando às campanhas contra a poluição, a mudança climática e o desmatamento, tornando Barbados um pioneiro no movimento global pelo meio ambiente.

“A primeira-ministra Mottley foi uma campeã para aqueles que são mais vulneráveis à tripla crise planetária da mudança climática, perda da natureza e da biodiversidade, e poluição e resíduos” disse Inger Anderson, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Seu ativismo apaixonado e suas conquistas políticas são exemplos primordiais de como as lideranças mundiais podem tomar medidas ousadas e urgentes em questões ambientais”.

Mottley foi eleita primeira-ministra em 2018 com mais de 70% dos votos populares, tornando-se a primeira mulher líder de Barbados desde a independência em 1966. Sob sua liderança, o país segue um plano ambicioso para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis até 2030. Sua ideia é que quase todas as casas da ilha tenham painéis solares e um veículo elétrico na frente.

Mottley, que afirma encontrar inspiração nas florestas que cobrem cerca de 20% de Barbados, também supervisionou uma estratégia nacional para plantar mais de 1 milhão de árvores, com a participação de toda a população. O plano visa promover a segurança alimentar e construir uma resiliência a um clima em mudança. 

Nosso mundo não sabe com o que está lidando, e se não controlarmos este fogo, ele queimará a nós todos.

Mia Amor Mottley, Primeira-Ministra de Barbados

É um estímulo que não poderia ser mais oportuno, pois um novo relatório do PNUMA sugere que o mundo está caminhando para um aumento de temperatura de 2,7°C, o que poderia levar a mudanças catastróficas para os ecossistemas do planeta. Com a perseverança de Mottley, a América Latina e o Caribe se tornaram a primeira região do mundo a chegar a um acordo sobre o Plano de Ação para a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, um esforço para prevenir e reverter a degradação dos espaços naturais em todo o mundo. Um relatório do PNUMA publicado em junho de 2021 constatou que para cada dólar investido na restauração de ecossistemas, são gerados até US$30 em benefícios econômicos. 

Portanto, Mottley acredita que enfrentar o declínio ambiental é fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico e combater a pobreza. Lidar com desastres relacionados ao clima “afeta a capacidade de financiar avanços rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse ela. “Outras coisas importantes no dia-a-dia das pessoas como educação, saúde, rodovias, tudo é afetado porque se tem um espaço fiscal limitado para realizar ações que, não fossem esses desastres, você conseguiria”.

Prime Minister Mia Mottley standing in an office
Mottley passou anos fazendo campanha contra a poluição, a mudança climática e o desmatamento, transformando Barbados em um pioneiro no movimento ambiental global. Foto: UNEP / Kyle Babb

Ela também é uma voz defensora dos países em desenvolvimento vulneráveis à mudança climática, especialmente os pequenos estados insulares que têm a previsão de serem inundados pela elevação do nível do mar. Durante uma visita do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a Barbados em outubro, ela enfatizou a importância de disponibilizar financiamento para que as nações em desenvolvimento se adaptem às mudanças climáticas. Nos países em desenvolvimento, o custo para combater os riscos relacionados ao clima, como secas, inundações e a elevação do nível do mar, é de US$ 70 bilhões por ano e pode chegar a US$ 300 bilhões anuais até 2030.

“Temos que reconhecer que, se não fizermos uma pausa nesta fase para resolver a estrutura de financiamento, teremos problemas”, disse Mottley.

Para ajudar Barbados a se adaptar à crise climática, a primeira-ministra liderou um programa nacional de resiliência denominado “De Telhados a Recifes” (“Roofs to Reefs”, em inglês). A iniciativa conta com o uso de ferramentas financeiras inovadoras para ampliar os gastos públicos em todas as áreas, desde o reforço da estrutura das casas até a restauração dos recifes de coral, que ajudam a proteger o litoral das tempestades. O De Telhados a Recifes tem sido elogiado como um modelo para outros países ameaçados pela mudança climática. 

 A sea turtle swimming
Sob Mottley, Barbados intensificou os esforços de preparação para a mudança climática, inclusive reforçando seus recifes de coral, importantes amortecedores contra tempestades. Foto: UNEP / Kyle Babb

Mottley é também a copresidente do Grupo de Líderes Globais em Resistência Antimicrobiana, liderando um esforço internacional para combater a resistência antimicrobiana (RAM) — uma grande ameaça ao meio ambiente, à saúde humana e ao desenvolvimento econômico. A RAM é a capacidade de organismos de resistir à ação de medicamentos utilizados para o tratamento de doenças em humanos e em animais. O uso indevido e excessivo de agentes antimicrobianos, incluindo antibióticos, pode exacerbar a mudança climática, a perda da natureza e biodiversidade, e a poluição e resíduos. 

Prime Minister Mia Mottley standing in an office
Mottley foi eleita primeira-ministra em 2018 com mais de 70% dos votos populares, tornando-se a primeira mulher líder de Barbados desde a independência em 1966. Foto: UNEP / Lulu Kitololo

Enquanto o mundo continua a se recuperar da devastação da pandemia de COVID-19, a primeira-ministra destaca que uma recuperação sustentável é essencial para a sobrevivência fiscal de seu país, que depende do turismo, bem como adverte que a continuidade dos negócios, da maneira como são conduzidos, aceleraria a crise climática.

“Penso que a combinação da pandemia e da crise climática nos proporcionou um momento político perfeito para que os seres humanos parem e examinem a fundo o que estão fazendo”, disse Mottley. “O que eu realmente quero deste mundo é que consigamos ter um senso de responsabilidade perante o nosso meio ambiente, e também perante as gerações futuras”.

 

Os prêmios Campeões da Terra e Jovens Campeões da Terra do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem indivíduos, grupos e organizações cujas ações têm um impacto transformador no meio ambiente.  Com cerimônias anuais, os prêmios são a maior honraria ambiental da ONU. 

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou os anos de 2021 a 2030 como a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas. Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com o apoio de parceiros, a Década foi concebida para prevenir, deter e reverter a perda e a degradação dos ecossistemas no mundo inteiro.  O objetivo é revitalizar bilhões de hectares, cobrindo tanto ecossistemas terrestres quanto aquáticos. Um chamado global à ação, a convocação reúne apoio político, pesquisa científica e força financeiro para intensamente ampliar a restauração. Para saber mais, acesse: https://www.decadeonrestoration.org/pt-br/tipos-de-restauracao-de-ecossistemas